A atitude crítica
A primeira característica da atitude filosófica é negativa,
isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos
fatos e às idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao
estabelecido.
A segunda característica da atitude filosófica é positiva,
isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os fatos,
as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma
interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como
tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são
as indagações fundamentais da atitude filosófica.
A face negativa e a face positiva da atitude filosófica
constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico.
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos
preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que
imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates,
afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada
sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa
com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava
que a Filosofia começa com o espanto.
Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso
mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o
tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos,
professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o
mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos
e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos
perguntar também o que somos, por que somos e como somos.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite
à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
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