Nosso próprio tempo (Parte 05/08)
— O neotomismo retoma pensamentos e idéias
que se ligam à tradição de são Tomás de Aquino. A chamada filosofia analítica ou empirismo
lógico retoma o pensamento de Hume e do empirismo britânico e também a
lógica de Aristóteles. E é claro que o século XX também é marcado pelo chamado neomarxismo e todas as suas correntes.
Já falamos também do neodarwinismo e
já chamamos a atenção também para a importância da psicanálise.
— Entendo.
— Uma última
corrente, que talvez devêssemos mencionar, é o materialismo, cujas raízes também estão num passado remoto da
história. A ciência moderna em muito nos lembra os esforços dos pré-socráticos.
Continua-se buscando, por exemplo, a “partícula elementar” indivisível, a
partir da qual toda a matéria se constitui. E também ainda não apareceu ninguém
que nos pudesse explicar exatamente o que é a “matéria”. As ciências naturais
modernas, como a física nuclear e a bioquímica, são tão fascinantes, que se
tornaram um componente essencial da cosmovisão de muitas pessoas.
— Novo e velho
convivendo lado a lado, não é isto?
— Podemos dizer que
sim. Pois as perguntas com as quais começamos este curso ainda não foram
respondidas. Sartre fez uma observação importante quando disse que as questões
existenciais não podem ser respondidas de uma vez e para todo o sempre. Uma
questão filosófica é per definitionem
uma questão que cada nova geração, que cada ser humano, tem de se colocar
novamente.
— Este pensamento
não é dos mais consoladores.
— Não sei se
concordo plenamente com você. Não é justamente quando nos fazemos essas
perguntas que nos sentimos vivos? Além do mais, não é na busca de respostas
para as “grandes” perguntas que o homem tem encontrado respostas claras e
definitivas para as “pequenas” perguntas? A ciência, a pesquisa, a tecnologia,
todas elas surgiram em algum momento a partir da reflexão filosófica. Afinal,
não foi a estupefação do próprio homem diante da vida que o acabou levando à
Lua?
— Sim, é verdade.
— Quando o
astronauta Armstrong pisou na Lua, ele disse: “Um pequeno passo para o homem,
um grande passo para a humanidade”. E com estas palavras incluiu na emoção de
ser o primeiro homem a pisar na Lua todos os que já haviam vivido antes dele.
Afinal, o fato de ele poder estar ali naquele momento não era mérito exclusivo
seu, nem de seus contemporâneos.
— Claro que não.
— Mas a nossa época
também teve de encarar muitos problemas novos. Os grandes problemas ambientais
são um exemplo disso. Por esta razão, uma importante corrente filosófica do
século XX é a ecofilosofia. Muitos
ecofilósofos do Ocidente defendem o ponto de vista de que nossa civilização
tomou o caminho errado e se encontra em rota de colisão com o que este planeta
é capaz de agüentar. Esses filósofos tentaram pesquisar mais a fundo e não
apenas discutir as conseqüências concretas da poluição e da destruição
ambientais. Para eles, alguma coisa não está certa em todo o pensamento
ocidental.
— Acho que eles têm
razão.
— Os ecofilósofos
questionaram, por exemplo, a noção de evolução, que se baseia na suposição de
que o homem está “no topo” da natureza; ou seja, que somos os senhores da
natureza. E é precisamente este pensamento que pode colocar em risco toda a
vida do planeta.
— Fico furiosa
quando penso nessas coisas.
— Em sua crítica a
este ponto de vista, os ecofilósofos foram buscar apoio no pensamento e nas
idéias de outras culturas, por exemplo na Índia. Eles também estudaram o
pensamento e o modo de vida dos chamados “povos nativos”, ou “populações
primitivas”, a fim de, quem sabe, encontrar algo que há muito tempo perdemos.
— Entendo.
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