Nosso próprio tempo (Parte 06/08)
— Nos últimos anos,
muitos têm afirmado dentro de círculos científicos que todo o nosso pensamento
científico está diante de uma mudança de
paradigma, ou seja, de uma mudança radical. Em diversas áreas específicas,
esta discussão já tem dado seus frutos. Não nos faltam exemplos dos chamados
“movimentos alternativos”, que dão particular importância para um pensamento
holístico e defendem um novo estilo de vida.
— Isso é muito bom.
— Ao mesmo tempo,
como em tudo o que o homem faz, também aqui é preciso saber separar o joio do
trigo. Muitos têm afirmado que nos aproximamos de uma nova era, a “New Age”. Só
que nem tudo o que é novo é necessariamente bom, e nem tudo o que é velho deve
ser descartado. Foi por isso que fizemos este curso de filosofia. Agora que
você conhece o pano de fundo histórico de nosso pensamento, você terá mais
facilidade para separar o joio do trigo. E quem é capaz de fazer isto também
tem mais facilidade em se nortear na vida.
— Sou grata a você
por tamanha consideração.
— Estou certo de
que verá que muito do que se diz “New Age” não passa de mero disparate. Nas
últimas décadas, a influência do que chamamos de “nova religiosidade”,
“neo-ocultismo” ou “moderna superstição” sobre o mundo ocidental deu origem a
uma verdadeira indústria. À medida que o cristianismo foi perdendo terreno, novas
ofertas surgiram aos montes no mercado de visões de mundo.
— Você poderia me
dar um exemplo?
— A lista é tão
longa que não sei nem por onde começar. De qualquer forma, não é fácil
descrever o próprio tempo. Sugiro que a gente dê uma volta pela cidade. Quero
mostrar uma coisa a você.
Indiferente, Sofia
sacudiu os ombros.
— Não tenho muito
tempo. Você não se esqueceu da festa de amanhã, não é?
— Claro que não.
Afinal, é nessa festa que vai acontecer uma coisa maravilhosa. Só precisamos
terminar o curso de filosofia de Hilde. Sabe, o major não pensou numa
continuação depois de concluído o curso. E é nesse ponto que ele perde parte de
sua força.
Mais uma vez
Alberto ergueu a garrafa de refrigerante, agora vazia, e bateu na mesa fazendo
um ruído.
Saíram do café. As
pessoas, apressadas, pareciam formigas correndo de lá para cá dentro de um
formigueiro. Sofia se perguntava o que Alberto queria mostrar para ela.
Passaram, então,
por uma grande loja de produtos eletroeletrônicos. Ali se vendia de tudo: de
aparelhos de televisão, videocassetes e antenas parabólicas até telefones
celulares, computadores e aparelhos de fax.
Alberto parou
diante da vitrine e disse:
— Aqui está o
século XX, Sofia. A partir do Renascimento, o mundo começou a explodir, por
assim dizer. A começar pelos grandes descobrimentos, pelas grandes viagens dos
europeus por todo o planeta. Em nossos dias, o que se verifica é uma explosão
ao contrário.
— Como assim?
— Estou querendo
dizer que o mundo inteiro está sendo ligado e se unindo numa única rede de
comunicação. Há não muito tempo, os filósofos ainda levavam muitos dias no
lombo de um cavalo ou no interior de um coche para observar o mundo, ou então
para encontrar outro pensador. Hoje em dia, em qualquer parte deste planeta,
podemos nos sentar diante de um computador e trazer até nós informações sobre
toda a experiência humana.
— Isto é uma coisa
fantástica e, ao mesmo tempo, um tanto amedrontadora.
— A questão é saber
se a história se aproxima de seu fim, ou se estamos no limiar de um novo tempo.
Não somos mais apenas habitantes de uma cidade ou de um país específico.
Vivemos uma civilização planetária.
— É mesmo.
— Nos últimos
trinta ou quarenta anos, a evolução tecnológica, sobretudo no que se refere aos
meios de comunicação, foi mais dramática do que em toda a história até então. E
o que estamos vivendo hoje pode ser apenas o começo…
— Era isto o que
você queria me mostrar?
— Não. O que eu
queria mostrar está ali atrás da igreja.
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