Hume (Parte 07/09)
— Quando Hume aborda a questão da força do hábito, ele se concentra na chamada lei da causa. Segundo esta lei, tudo o que acontece precisa ter uma causa. Hume cita o exemplo de duas bolas de bilhar. Quando você empurra com o taco uma bola preta para cima de uma bola branca que estava em repouso, o que acontece com a bola branca?
— Quando a preta atinge a branca, a branca começa a se mover.
— E por que ela começa a se mover?
— Porque foi atingida pela bola preta.
— Neste caso, dizemos que o impacto da bola preta é a causa do início do movimento da bola branca. Mas não devemos nos esquecer de que só podemos falar com certeza sobre coisas que experimentamos.
— Eu mesma já experimentei isto várias vezes. É que a Jorunn tem uma mesa de bilhar no porão.
— Hume diz que você só experimentou o fato de que a bola preta bate na branca e que a branca começa a rolar sobre a mesa, e não a causa em si do movimento da bola branca. Você experimentou o fato de um acontecimento se suceder temporalmente ao outro, mas não experimentou que o segundo evento ocorre por causa do primeiro.
— Esta não é uma diferença sutil demais?
— Não, é uma coisa muito importante. Hume insiste em que a expectativa de que um evento se suceda ao outro não está nas coisas em si, mas em nossa mente. Novamente, a criança não arregalaria os olhos de espanto se uma bola atingisse a outra e ambas ficassem paradas sobre a mesa. Quando falamos de “leis da natureza” ou de “causa e efeito” estamos falando na verdade de hábitos humanos e não de algo racional. As leis da natureza não são racionais nem irracionais. Elas simplesmente são. A expectativa de que a bola branca de bilhar entre em movimento quando atingida pela preta não é, portanto, uma coisa inata. Não nascemos com expectativas já prontas acerca de como o mundo é, ou de como as coisas se comportam no mundo. O mundo é como é, e nós vamos experimentando isto pouco a pouco.
— Começo a ter novamente a sensação de que isto tudo não é assim tão importante.
— Mas isto pode ser importante quando, movidos por nossas expectativas, somos tentados a tirar conclusões precipitadas. Hume não rejeita o fato de existirem leis naturais imutáveis. Só que como não somos capazes de experimentar tais leis em si, podemos facilmente tirar conclusões erradas.
— Você poderia citar alguns exemplos?
— O fato de eu ver uma manada de cavalos pretos não significa que todos os cavalos sejam pretos.
— Nesse ponto você tem razão.
— E mesmo o fato de durante toda a minha vida eu só ter visto corvos pretos não significa que não haja corvos brancos. Para um filósofo e para um cientista pode ser importante provar que não existem corvos brancos. Se quiser, você pode até dizer que a procura por um corvo branco é a tarefa mais importante de toda a ciência.
— Entendo.
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