"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Os 18 do Forte de Copacabana


Copacabana. Um dos cartões postais do Rio de Janeiro. Provavelmente o mais famoso. O que muita gente não sabe é que este famoso bairro, que já foi filmado e cantado, foi também cenário de um movimento militar armado que ficou conhecido como os "18 do Forte". E o desfecho é digno de um filme…
No início de 1922, ano em que aconteceria a sucessão do então Presidente Epitácio Pessoa, o clima entre o Exército e a classe política não era dos melhores. Entre outros motivos, os militares ainda não haviam engolido o fato de Epitácio Pessoa ter nomeado um civil para o Ministério da Guerra. Para piorar as coisas, a imprensa havia publicado cartas, supostamente escritas pelo candidato do governo, Artur Bernardes, com acusações ao Exército e ao Presidente do Clube Militar, Marechal Hermes da Fonseca.

Como esperado Artur Bernardes foi eleito Presidente da República. Sua posse foi marcada para novembro, sete meses após as eleições.
Neste meio tempo, grupos descontentes com o novo governo estadual de Pernambuco, apoiado pelo ainda Presidente Epitácio Pessoa, promoveram diversas revoltas populares. O Presidente convocou o Exército para conter as revoltas, e foi duramente criticado pelo Marechal Hermes da Fonseca. Como conseqüência, no dia 2 de junho de 1922 o Clube Militar foi fechado por decreto presidencial, e seu presidente levado preso.
O problema é que não se prende a mais alta patente militar do País desta forma, pelo menos não sem que seja considerada uma afronta aos militares do Exército, e não com os quartéis prestes a entrar em erupção. E a frase "a procissão vai sair", começou ser ouvida.
De fato, foi marcado para o dia 5 de julho o início da Revolução. Apesar da articulação ter sido intensa, o movimento aconteceu basicamente no Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. No Rio, então Distrito Federal, acabou sendo uma ação restrita ao Forte de Copacabana, já que os alunos da Escola Militar de Realengo foram rapidamente derrotados pelas tropas aquarteladas na Vila Militar.
O Comandante do Forte de Copacabana era o capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do Marechal preso. Um tiro de canhão seria o sinal combinado para que os "trabalhos" fossem abertos, e deveria ser pelas outras unidades militares rebeladas. Ao ser disparado pelo Tenente Siqueira Campos, o Forte de Copacabana teve o silêncio como resposta. Ao que parece, o governo soube da intenção do movimento, e trocou os principais comandos militares do então Distrito Federal.
Mesmo assim, os rebeldes do Forte de Copacabana dispararam os canhões contra diversas unidades militares, incluindo o próprio prédio do Ministério da Guerra. As forças fiéis ao governo, através dos batalhões do I Exército, revidaram e atacaram duramente o Forte. Através da artilharia da Fortaleza de Santa Cruz, intensos bombardeios foram realizados.
O Ministro da Guerra Pandiá Calógeras, telegrafou ao Forte exigindo a rendição dos rebelados. O capitão Euclides resolve liberar aqueles que não quisessem continuar lutando, e dos 301 combatentes, 272 se retiraram.
Sob intenso bombardeio, inclusive dos encouraçados São Paulo e Minas Gerais, o capitão Euclides Hermes sai do Forte ao encontro do Ministro da Guerra para negociar. É preso ao chegar.
Ao perceber que não haveria mais negociações, o tenente Siqueira Campos reúne os 28 restantes e decide que irão de encontro às tropas legalistas combatendo. Ele recolhe a Bandeira Nacional e a divide em 28 pedaços, que são entregues a cada um dos homens para que as levassem junto ao coração. Ainda hoje podemos ver no Forte de Copacabana os pedaços da bandeira original.
No começo da tarde o grupo começa o avanço pela Avenida Atlântica. Após o começo dos conflitos, e em função de intenso tiroteio, o grupo se dispersa restando 17 militares. A eles se junta o engenheiro civil Otávio Correia.
O enfrentamento final se deu na antiga rua do Barroso, atualmente Siqueira Campos, quando o grupo foi confrontado por tropas infinitamente mais numerosas.
Do confronto desigual, só permaneceram vivos os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, embora bastante feridos.
Em 15 de novembro de 1922, Artur Bernardes assume a Presidência do Brasil, ainda sob o estado de sítio decretado por conta da Revolta dos 18 do Forte.
E nossa Princesinha do Mar, assistiu a primeira e única vez que os canhões do Forte de Copacabana foram usados. Infelizmente…

Fonte: Diário do Rio

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