"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Ciência



Neste momento, falaremos, de modo geral, acerca da ciência, de seu vínculo com a filosofia e com a ânsia humana de conhecer. Notamos, desde o início dos primeiros grupos sociais sobre os quais se tem alguma noticia documentada, que estes não se satisfaziam em somente caçar, pescar, plantar, mas que também estavam interessados em procurar dominar o mundo que os cercava. Assim, de início, aperfeiçoavam seus instrumentos de caça e pesca, mas também procuravam criar instrumentos cortantes para trabalhar o couro, os alimentos e outros materiais. Com o passar do tempo, o homem pôde fazer uso do fogo e, com ele, todo um novo mundo de descobertas e possibilidades se abriu diante de seus olhos. 

As maneiras que os seres humanos possuíam para organizar o conhecimento sobre o mundo, que começava a se tornar bastante vasto na medida em que eles se interessavam cada vez mais em conhecê-lo e dominá-lo, foram, de início, os mitos. Em seguida apareceu a filosofia, que propôs um olhar racional para o que estava acontecendo ao redor do homem. Podemos dizer que, desde os primeiros filósofos, a ciência já se fazia presente, como um embrião em desenvolvimento.
O uso cada vez maior da Razão foi paulatinamente desvinculando as explicações sobre os diversos eventos dos mitos. Estas explicações foram, paulatinamente, se aproximando de causas que se tornavam cada vez mais físicas e naturais. Assim, o Sol deixou de ser a carruagem do deus Apolo para se tornar um corpo celeste, uma estrela que nada possuía de divino. A chuva deixou de ser a manifestação de deuses preocupados com as colheitas dos homens para se tornar apenas mais um evento atmosférico; o fogo deixou de ser considerado o presente de Prometeu para ser encarado apenas como o efeito do calor em diversos materiais combustíveis.
A ciência, portanto, abdica de explicações não físicas, abdica de explicações baseadas na vontade divina. Ela tem como pressuposto a ideia de que não há nada além da matéria e, muitas vezes, ouvimos o termo “materialista” para designar aquela pessoa, aquela ideia ou aquela teoria que prega a ciência como fonte exclusiva de conhecimento. Com Galileu e Newton, a ciência praticamente se tornou independente da filosofia. Ela se tornou um campo isolado do conhecimento humano, na medida em que, sozinha, dava conta de explicar de maneira convincente a maioria dos fenômenos naturais.
Mas a matéria não está parada no mundo. Os fenômenos físicos apontam para um constante movimento de toda a matéria. Esta se reúne de diferentes formas, dando origem aos objetos. Num segundo momento, ela se desintegra novamente em partículas isoladas para, em um terceiro momento, se aglomerar numa forma diferente, num objeto diferente. Também os corpos se movem no espaço, apresentando configurações diferentes no tempo e obedecendo a um certo padrão. Logo, é trabalho dos cientistas descobrir, ou sugerir, explicações para estes padrões de movimento da matéria. Eles também tentam explicar os processos e fenômenos físicos, químicos e biológicos que advenham destes padrões de movimento.
A partir do momento em que a Razão sozinha não é mais suficiente para conhecer o mundo, já que este se torna muito complexo em algumas situações, os cientistas começam a fazer uso das experiências. Estes homens de ciência tentam simular, ou repetir, eventos físicos de maneira a torná-los mais simples e mais fáceis de serem compreendidos em uma situação que eles possam controlar.
Filosoficamente, então, encontramos dois momentos distintos na ciência: o conhecimento obtido por meio do uso exclusivo da Razão e aquele obtido com o auxílio da experiência; o primeiro tipo ficou conhecido como conhecimento racional, e o segundo, como conhecimento empírico. Em um certo momento da história da filosofia e da ciência, o Racionalismo e o Empirismo se rivalizaram numa disputa sobre que métodos poderiam fornecer o conhecimento mais verdadeiro, mais puro ou mais convincente. Atualmente, esta disputa parece ter arrefecido.
No entanto, a ciência não é pura. Ela não está livre de crenças, não está livre de Ideais ,assim como tanto gostaria. Ela assume certas crenças básicas sem as quais não poderia começar seu trabalho investigativo:
• a primeira delas, como já apontamos, é a crença no físico, no material; no momento em que ela cogita a possibilidade do extra-mundano, do sobrenatural, então ela perde o seu princípio materialista e deixa de ser ciência, assim como a entendemos em seu sentido clássico.
• a segunda é a crença no espírito racional humano. Sem a existência deste fator que distingue o ser humano das outras espécies vivas, lhe conferindo a capacidade do pensamento objetivo, também não poderia haver a livre consideração dos diversos fatores que compõem o trabalho científico.
• a terceira é a crença na percepção sensorial. Isto é, de que podemos perceber o mundo e criar representações verossímeis baseadas nestas percepções. Sem estas representações, o trabalho científico seria como um idioma que, a cada segundo, trocasse o nome das coisas.
• a quarta é a crença na mecânica do universo. Em outras palavras, que existem relações causais físicas entre os corpos e que estas relações os põem em movimentos variados. A ciência não pode admitir a existência de espíritos, ou almas (Anima), que sejam as causas dos movimentos dos objetos, justamente devido à crença no materialismo.
Poderíamos classificar uma série de outras crenças e ideais, no entanto, acreditamos serem estas quatro as mais básicas. Os cientistas mais sisudos descartam a existência de “crenças” e costumam chamar estes itens de “pressupostos científicos”, mas, em última análise, acaba dando no mesmo.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

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