Kierkegaard (Parte 01/07)
(…)
De repente, Sofia ouviu alguém batendo na porta. Alberto
olhou para ela muito sério.
— Não queremos ser perturbados, queremos?
Bateram mais forte.
— Vamos falar agora sobre um filósofo dinamarquês, que
ficou muito irritado com a filosofia de Hegel — disse Alberto.
Mas começaram a bater tão forte que a porta chegava a
tremer.
— É claro que é o major nos enviando outra de suas
personagens fantásticas, só para ver se consegue nos pegar de novo — disse
Alberto. — Para ele isto não é problema.
— Mas se não abrirmos e vermos quem é, ele também não
terá o menor problema em demolir a casa inteira.
— Talvez você tenha razão. Vamos abrir.
Foram até a porta. Pela força das batidas, Sofia estava
esperando um gigante, no mínimo. Mas lá fora só havia uma menina com um vestido
florido e longos cabelos loiros. Na mão ela segurava dois frascos: um era
vermelho, o outro azul.
— Olá! — disse Sofia. — Quem é você?
— Meu nome é Alice — respondeu a menina enquanto fazia um
gesto de cortesia meio envergonhada.
— Foi o que pensei — disse Alberto. — É Alice no País das
Maravilhas.
— Mas como ela chegou até aqui?
A própria Alice explicou:
— O País das Maravilhas é um lugar sem fronteiras, o que
significa que ele está por toda a parte. Mais ou menos como a ONU. Por isso o País das Maravilhas deveria se
tornar membro honorário da ONU. Precisamos
de um representante em cada comitê.
— Ah, o major! — disse Alberto, sorrindo satisfeito.
— E o que traz você aqui? — perguntou Sofia.
— Eu trouxe estes dois frascos da filosofia para você.
Entregou a Sofia os dois frascos; num deles havia um
líquido vermelho e no outro um líquido azul. No frasco vermelho estava escrito
“BEBA-ME!” e, no azul, “BEBA-ME TAMBÉM!”
No instante seguinte, um coelho branco passou correndo
pela cabana. Ele corria sobre duas patas e usava um colete e um paletó. Quando
passou na frente da cabana, tirou do bolso do colete um relógio e disse:
— É tarde! É tarde!
E continuou a correr. Alice fez menção de sair correndo
atrás dele; antes, porém, voltou-se para Sofia e Alberto, fez uma reverência e
disse:
— Vai começar tudo de novo!
— Mande um abraço para Diná e para a Rainha! — disse
Sofia para Alice, que a esta altura já tinha saído atrás do coelho.
Pouco depois, Alice desapareceu na floresta. Alberto e
Sofia ficaram parados à entrada da cabana olhando os dois frascos.
— “BEBA-ME!” e “BEBA-ME TAMBÉM!” — leu Sofia. — Não sei se devo.
Pode ser veneno.
Alberto sacudiu os ombros.
— Esses vidros vêm do major e tudo o que vem do major é
pura imaginação. Portanto, isso aí não passa de um suco imaginário.
Extratos da obra de
GAARDER, Jostein.
O Mundo de Sofia. Romance da
História da Filosofia.
São Paulo: Cia das
Letras, 1996.
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