"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Política



Neste segundo momento do nosso curso de filosofia vamos nos voltar para alguns dos temas sobre os quais, por um motivo ou por outro, houve um intenso esforço de pensamento no ocidente: Razão, Arte, Conhecimento, Ciência, Lógica, Linguagem, Mente, Espírito, Ética, Ideologia, Política, Religião, Estética, Sujeito, Metafísica e Cultura. Muitas vezes, estes temas encontram-se relacionados uns com os outros de várias maneiras. Por motivos de simplificação, porém, vamos tentar isolá-los um dos outros e da história cronológica da humanidade.
Para nós serão como quadros filosóficos que poderemos observar e apreciar sem um apego maior à situação em que apareceram. No entanto, na medida em que se tornar impossível tratá-los assim, faremos referência às suas respectivas situações ambientais e temporais. O primeiro tema de que trataremos é o da Política.

Na medida em que a vida em grupo mostra-se como uma necessidade à qual o ser humano aparentemente não consegue subtrair-se, automaticamente alguma espécie de controle organizacional começa a se fazer presente. Geralmente, este controle mostra-se como uma manifestação de poder coercitivo, ou seja, aquele que inibe algumas liberdades individuais para que se forneçam as condições necessárias da vida em grupo. Surge, então, a situação de governante e governado.
Esta situação se dá de muitas maneiras e chamamos a estas diversas maneiras pelos nomes que apontam para a forma política e a forma de governo adotada pela sociedade, ou imposta a ela por meio da força. Por exemplo, nós possuímos um regime político que costumamos chamar de democracia (Demo = Povo; Cracia = Poder), de origem grega, segundo o qual o poder de discussão e decisão é deixado ao povo (governado), que se manifesta por meio de seus representantes (governantes), que também fazem parte do povo. Assim, em um sentido ideal, o próprio povo é o governo; ou seja, o povo é, ao mesmo tempo, governante e governado. Também é um lugar comum, neste tipo de regime político, se dizer que “todos são iguais perante a sociedade”, ou “que todos possuem os mesmos direitos sociais”.
Por sua vez, os regimes de governo que têm como paradigma o regime político democrático podem assumir diversas formas, como a forma presidencialista, a monarquia parlamentar, o parlamentarismo, o anarquismo ou até mesmo a forma socialista de governo. Todas estas formas de governo, resguardadas as suas particularidades, devem entregar o poder de decisão ao povo para se manterem democráticas.
Mas também há muitas outras formas de governo, como as diversas tiranias, as monarquias de todo tipo e as ditaduras militares. Elas têm em comum a guarda do poder nas mãos de poucos, ou de apenas um que, por um motivo ou por outro, obtiveram o poder. Suas ideologias políticas, em geral, manifestam uma forte discriminação da sociedade em camadas sociais, ou em castas, impostas por um poder maior que às vezes é divino, às vezes é hereditário. Estas formas de governo tomam por base regimes políticos que, na maioria das vezes, são denominados de Autocracia ou de Aristocracia. E, como podemos facilmente concluir, seus ideais se opõem aos ideais da democracia.
É fundamental não se confundir a política, tomada em si mesma, com a filosofia política. Num tipo de regime de governo democrático, por exemplo, a ‘Política’, considerada em si mesma, é a prática, a ação que conduz às discussões e às decisões que uma sociedade deve gerar e criar para que o bem comum seja alcançado e atendido. Em muitos casos, a política é a saída racional para se resolver as diferenças, para se amenizar as desigualdades sociais ou para se dividir o bem público igualmente. Política é, portanto, atuação efetiva dos cidadãos na vida pública, tendo em vista os ideais de governo aos quais está submetida
a sociedade da qual se é parte integrante, com o fim de garantir a preservação destes ideais. Logo, político é aquele que exercita o seu direito de expressão pública e a defesa dos interesses da comunidade, da cidade ou do Estado.
A filosofia trata da política tentando descobrir de que maneira ela pode ser teorizada. Isto é, ela tenta explicitar quais seriam seus aspectos gerais, mais simples e fundamentais. Na medida em que estas características forem sendo sugeridas, os teóricos da política criam explicações tentando convencer o seu meio social de que elas representam a verdade sobre uma dada situação e de um determinado povo. É por meio da teoria crítica da política que se pode sugerir quais seriam os melhores regimes de governo a se adotar, ou quais seriam as mais justas formas de governo para uma determinada cultura, ou em que situação se pode manter melhor o controle na sociedade, ou como entender os movimentos sociais, como greves, passeatas, revoluções, guerrilhas, fome, desenvolvimento econômico etc.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

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