Hegel (Parte 01/07)
(…)
Alberto e Sofia sentaram-se nas poltronas junto à janela
que dava vista para o lago.
— Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um legítimo filho do
Romantismo — começou Alberto. — Poderíamos até dizer que ele seguiu fielmente a
evolução do espírito alemão. Hegel nasceu em 1770, em Stuttgard, e aos dezoito
anos começou a cursar teologia em Tübingen. A partir de 1799, começou a
trabalhar com Schelling em Iena, justamente quando e onde o movimento romântico
viveu seu período de crescimento mais explosivo. Depois de ter lecionado em
Iena, Hegel passou a trabalhar como professor universitário em Heidelberg,
centro do Romantismo nacional alemão. Por fim, em 1818, tornou-se professor em
Berlim, exatamente na época em que esta cidade começou a se transformar no
centro intelectual da Europa. Em novembro de 1831, Hegel morreu de cólera. A
esta altura, porém, o “hegelianismo” já tinha muitos adeptos em quase todas as
universidades alemãs.
— Quer dizer que ele presenciou quase tudo o que
aconteceu de importante.
— Sim, e o mesmo vale também para a sua filosofia. Nela,
Hegel reuniu e desenvolveu quase todos os pensamentos surgidos entre os
românticos. Mas também foi um crítico severo; por exemplo, da filosofia de
Schelling.
— O que ele criticou em Schelling?
— Schelling e os outros românticos viam a razão mais
profunda da existência no chamado espírito do mundo. Hegel também emprega o
conceito de “espírito do mundo”, mas lhe atribui outro sentido. Quando Hegel
fala de espírito do mundo ou “razão do mundo”, ele está se referindo à soma de
todas as manifestações humanas. Isto porque, a seu ver, só o homem possui um
espírito. Nesse sentido, Hegel pode falar também da marcha do espírito do mundo
através da história. Não devemos nos esquecer, porém, de que ele fala da vida
do homem, dos pensamentos do homem e da cultura do homem.
— Quer dizer que este espírito de que ele fala é muito
menos fantasmagórico. Não se trata, por exemplo, de uma espécie de consciência
adormecida que está à espreita dentro de pedras e árvores…
— Muito bem. Na certa você se lembra de que Kant se
referiu a um conceito que chamou de “a coisa em si”. Embora contestasse que o
homem pudesse ter um conhecimento claro dos segredos mais recônditos da
natureza, Kant acena para a possibilidade de existir uma espécie de verdade
inatingível. Hegel dizia que a verdade era basicamente subjetiva e contestava a
possibilidade de ainda haver uma verdade acima ou além da razão humana. Todo
conhecimento é conhecimento humano, ele dizia.
— Ele teve de trazer a filosofia de volta à terra, não é?
— Sim. Talvez possamos formular a coisa com essas palavras.
Bem, a filosofia de Hegel é tão diversificada e cheia de nuances, que neste
curso vamos nos limitar a comentar apenas alguns de seus pontos mais
importantes. Na verdade, há dúvidas sobre se podemos dizer que Hegel teve a sua
própria filosofia. O que chamamos de filosofia de Hegel é, de fato, um método para se entender o curso da
história. Na verdade, a filosofia de Hegel não nos ensina nada sobre “a
natureza mais profunda da existência”, mas pode nos ensinar a pensar de uma
forma extremamente frutífera.
— O que não deixa de ser muito importante.
Extratos da obra de
GAARDER, Jostein.
O Mundo de Sofia. Romance da
História da Filosofia.
São Paulo: Cia das
Letras, 1996.
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