Hegel (Parte 06/07)
— A razão de Hegel é, portanto, uma razão dinâmica. Como
a realidade está impregnada de opostos e contradições, uma descrição da
realidade tem necessariamente de ser cheia de opostos e contradições. Aqui vai
um exemplo: diz-se que o físico atômico Niels Bohr mandou pendurar uma
ferradura na porta de sua casa.
— Isto é para dar sorte.
— Mas isto não passa de superstição e Niels Bohr podia
ser qualquer coisa, menos supersticioso. Um dia recebeu a visita de um amigo,
que pensou a mesma coisa: “Quer dizer que você acredita nessas coisas”,
observou o amigo. E Bohr respondeu: “Não. Mas me disseram que apesar disso a
coisa funciona mesmo”.
— Sem comentários.
— Mas a resposta de Bohr foi bastante dialética. Muitos
diriam até que foi uma resposta altamente contraditória. Niels Bohr, como
também o poeta norueguês Vinje, era conhecido pela sua visão dialética do
mundo. Certa vez, ele disse que havia dois tipos de verdades: as verdades
superficiais, cujos opostos eram obviamente errados, e as verdades profundas,
cujos opostos eram tão certos quanto elas mesmas.
— Que verdades seriam estas?
— Quando digo, por exemplo, que a vida é breve…
— Concordo com você.
— Em outra situação, porém, posso abrir os braços e dizer
que a vida é longa.
— Você tem razão. De certa forma isto também é verdade.
— Para terminar, quero dar ainda um exemplo de como uma
tensão dialética pode desencadear uma ação espontânea, que leva a uma subida
mudança.
— Vamos lá!
— Imagine uma menina que só diz “Sim, mamãe”, “Está
certo, mamãe”, “Como você quiser, mamãe”, “É para já, mamãe!”.
— Fico arrepiada só de pensar.
— Um belo dia, a mãe se enerva com o fato de sua filha
ser sempre tão obediente e grita, nervosa: “Não seja tão obediente!”. E a filha
responde: “Sim, mamãe”.
— Eu daria uma bofetada nela!
— É verdade. Mas o que você faria se, em vez disso, ela
tivesse respondido: “Mas eu quero ser obediente”?
— Seria uma resposta muito esquisita. Acho que ainda
assim ela levaria a bofetada.
— Em outras palavras, a situação chegou a um impasse. A
tensão dialética chegou a ponto tal que é
preciso acontecer uma transformação.
— A bofetada, você quer dizer.
— Precisamos mencionar ainda um último aspecto da
filosofia de Hegel.
— Sou toda ouvidos.
— Você está lembrada de que chamamos os românticos de
individualistas.
— O caminho do mistério aponta para dentro.
— Precisamente este individualismo encontra sua “negação”
na filosofia de Hegel. É que Hegel atribui uma importância enorme àquilo que
chamou de “forças objetivas”. Ele se refere com isto à família e ao Estado.
Podemos dizer que, nesse sentido, Hegel não perde totalmente de vista o
indivíduo, mas o vê sobretudo como uma parte orgânica de uma comunidade. Para
Hegel, a razão ou o espírito do mundo só se tornam visíveis na interação das
pessoas.
— Explique melhor.
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