Hegel (Parte 04/07)
— Os eleatas tinham razão quando afirmavam que nada se
transformava; mas não estavam certos quando diziam que não podemos confiar em
nossos sentidos. Heráclito tinha razão quando dizia que podemos confiar em
nossos sentidos, mas não estava certo quando afirmava que “tudo flui”.
— Isto porque existe mais do que apenas uma substância
primordial. A composição se altera, mas não a substância em si.
— Exatamente. O pensamento de Empédocles, que estabelecia
uma ponte entre os dois pontos de vista opostos, é chamada por Hegel de a negação da negação.
— Deus meu!
— Esses três estágios do conhecimento também foram
chamados por Hegel de tese, antítese e síntese. Podemos chamar de tese o racionalismo de Descartes, depois
contradito pela antítese empírica de Hume. Mas esta oposição, esta tensão entre
duas formas de pensar diferentes, foi suprimida com a síntese de Kant. Kant deu
razão de um lado aos racionalistas e de outro aos empíricos. Ele também mostrou
que ambos estavam enganados em pontos importantes. Mas a história não termina
com Kant. A síntese de Kant se transformou em ponto de partida para a nova
cadeia tripartite de pensamento, também chamada de “tríade”. Pois a síntese
também se transforma em tese, e a esta segue-se uma nova antítese.
— Tudo isso é horrivelmente teórico.
— Sim, é teórico. Mas ainda que soe tremendamente
teórico, Hegel não quis moldar a história a um esquema preestabelecido. Ele
acreditava poder derivar da própria história este modelo dialético. Hegel
estava plenamente convencido de que tinha descoberto leis para a evolução da
razão, ou para a marcha do “espírito do mundo” ao longo da história.
— Entendo.
— Mas a dialética de Hegel não se aplica apenas à
história. Quando discutimos, também pensamos dialeticamente, pois tentamos
identificar falhas em determinada forma de pensar. Hegel chamou isto de
“pensamento negativo”. Só que ao detectarmos falhas em determinada forma de
pensar, estamos ao mesmo tempo preservando o que ela tem de melhor.
— Exemplos!
— Se um socialista e um conservador sentam-se para tentar
resolver um problema social, não demora muito para que surja uma tensão entre
duas formas de pensar. Isto não significa, porém, que só um tem razão ou que só
o outro está enganado. É perfeitamente possível que ambos tenham um pouco de
razão e que ambos estejam errados em alguns pontos. No decorrer da discussão,
se forem espertos, eles saberão conservar os melhores argumentos de ambos os
lados.
— Tomara.
— Quando estamos no meio de uma discussão como essa,
infelizmente nem sempre é fácil saber qual das duas posturas é a mais racional.
Por esta razão é que, no fundo, a história é que decide o que está certo e o
que está errado. Para Hegel, só o que é racional é viável.
— Quer dizer que o que sobrevive está certo?
— Ou o contrário: o que está certo sobrevive.
— Você não teria outro exemplo? Tudo isto soa tão
abstrato…
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