As finalidades da religião
A invenção cultural do sagrado se realiza como processo de simbolização e
encantamento do mundo, seja na forma da imanência do sobrenatural no natural,
seja na transcendência do sobrenatural. O sagrado dá significação ao espaço, ao
tempo e aos seres que neles nascem, vivem e morrem.
A passagem do sagrado à religião determina as finalidades principais da
experiência religiosa e da instituição social religiosa. Dentre essas
finalidades destacamos:
● proteger os seres humanos contra o medo da Natureza, nela encontrando
forças benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras;
● dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações
para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos;
● oferecer aos humanos a esperança de vida após a morte, seja sob a forma
de reencarnação perene, seja sob a forma de reencarnação purificadora, seja sob
a forma de imortalidade individual, que permite o retorno do homem ao convívio
direto com a divindade, seja sob a forma de fusão do espírito do morto no seio
da divindade. As religiões da salvação, tanto as de tipo judaico-cristão quanto
as de tipo oriental, prometem aos seres humanos libertá-los da pena e da dor da
existência terrena;
● oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja
ela física ou psíquica;
● garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade
estabelecida pela sociedade. Em geral, os valores morais são estabelecidos pela
própria religião, sob a forma de mandamentos divinos, isto é, a religião
reelabora as relações sociais existentes como regras e normas, expressões da
vontade dos deuses ou de Deus, garantindo a obrigatoriedade da obediência a
elas, sob a pena de sanções sobrenaturais.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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