Os objetos simbólicos
A religião não sacraliza apenas
o espaço e o tempo, mas também seres e objetos do mundo, que se tornam símbolos
de algum fato religioso.
Os seres e objetos simbólicos
são retirados de seu lugar costumeiro, assumindo um sentido novo para toda a
comunidade – protetor, perseguidor, benfeitor, ameaçador. Sobre esse ser ou
objeto recai a noção de tabu
(palavra polinésia que significa intocável): é um interdito, ou seja, não pode
ser tocado nem manipulado por ninguém que não esteja religiosamente autorizado
para isso.
É assim, por exemplo, que certos
animais se tornam sagrados ou tabus, como a vaca na Índia, o cordeiro perfeito
consagrado para o sacrifício da páscoa judaica, o tucano para a nação tucana,
do Brasil. É assim, por exemplo, que certos objetos se tornam sagrados ou
tabus, como o pão e o vinho consagrados pelo padre cristão, durante o ritual da
missa. Do mesmo modo, em inúmeras religiões, as virgens primogênitas das
principais famílias se tornam tabus, como as vestais, na Roma antiga. Também
objetos se tornam símbolos sagrados intocáveis, como os pergaminhos judaicos
contendo os textos sagrados antigos, certas pedras usadas pelos chefes
religiosos africanos, etc.
Os tabus se referem ou a objetos
e seres puros ou purificados para os deuses, ou a objetos e seres impuros, que
devem permanecer afastados dos deuses e dos humanos. É assim que, em inúmeras
culturas, a mulher menstruada é tabu (está impura) e, no judaísmo e no
islamismo, a carne de porco é tabu (é impura).
A religião tende a ampliar o
campo simbólico, mesmo que não transforme todos os seres e objetos em tabus ou
intocáveis. Ela o faz, vinculando seres e qualidades à personalidade de um
deus. Assim, por exemplo, em muitas religiões, como as africanas, cada
divindade é protetora de um astro, uma cor, um animal, uma pedra e um metal
preciosos, um objeto santo.
A figuração do sagrado se faz
por emblemas: assim, por exemplo, o
emblema da deusa Fortuna era uma roda, uma vela enfunada e uma cornucópia; o da
deusa Atena, o capacete e a espada; o de Hermes, a serpente e as botas aladas;
o de Oxossi, as sete flechas espalhadas pelo corpo; o de Iemanjá, o vestido
branco, as águas do mar e os cabelos ao vento; o de Jesus, a cruz, a coroa de
espinhos, o corpo glorioso em ascensão.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
0 Response to "Os objetos simbólicos"
Postar um comentário