Ritos
Porque a religião liga humanos e
divindade, porque organiza o espaço e o tempo, os seres humanos precisam
garantir que a ligação e a organização se mantenham e sejam sempre propícias.
Para isso são criados os ritos.
O rito é uma cerimônia em que
gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas
determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de
presentificar o laço entre os humanos e a divindade. Para agradecer dons e
benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a bondade dos
deuses ou para exorcizar sua cólera, caso os humanos tenham transgredido as
leis sagradas, as cerimônias ritualísticas são de grande variedade.
No entanto, uma vez fixada a
simbologia de um ritual, sua eficácia dependerá da repetição minuciosa e perfeita
do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque nela os próprios deuses
orientaram gestos e palavras dos humanos. Um rito religioso é repetitivo em
dois sentidos principais: a cerimônia deve repetir um acontecimento essencial
da história sagrada (por exemplo, no cristianismo, a eucaristia ou a comunhão,
que repete a Santa Ceia); e, em segundo lugar, atos, gestos, palavras, objetos
devem ser sempre os mesmos, porque foram, na primeira vez, consagrados pelo
próprio deus. O rito é a rememoração perene do que aconteceu numa primeira vez
e que volta a acontecer, graças ao ritual que abole a distância entre o passado
e o presente.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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