Cultura e História
Foi Hegel e, depois dele, Marx que enfatizaram a Cultura como História.
Para o primeiro, o tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão se
manifesta e se desenvolve através das obras e instituições – religião, artes,
ciências, Filosofia, instituições sociais, instituições políticas. A cada
período de sua temporalidade, o Espírito ou razão engendra uma Cultura
determinada, que exprime o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da
humanidade – China, Índia, Egito, Israel, Grécia, Roma, Inglaterra, França,
Alemanha seriam fases da vida do Espírito ou da razão, cada qual exprimindo-se
com uma Cultura própria e ultrapassada pelas seguintes, num progresso contínuo.
Para Marx, há em Hegel um engano básico, qual seja, confundir a
História-Cultura com a manifestação do Espírito. A História-Cultura é o modo
como, em condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem
materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão
sentido a essa produção material. A História-Cultura não narra o movimento
temporal do Espírito, mas as lutas reais dos seres humanos reais que produzem e
reproduzem suas condições materiais de existência, isto é, produzem e
reproduzem as relações sociais,
pelas quais distinguem-se da Natureza e diferenciam-se uns dos outros em
classes sociais antagônicas.
O movimento da História-Cultura é realizado pela luta das classes sociais
para vencer formas de exploração econômica, opressão social, dominação
política. Despotismo asiático, modo de produção antigo (Grécia, Roma), modo de
produção feudal (Idade Média), capitalismo comercial ou mercantil, capitalismo
industrial são as maneiras pelas quais surgem e se organizam as formações
sociais, internamente divididas por lutas, cujo fim dependerá da capacidade de
organização política e de consciência da última classe social explorada (o
proletariado, produzido pelo capitalismo industrial) para eliminar a
desigualdade e injustiça históricas.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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