Manifestação e revelação
Há religiões em que os deuses se
manifestam: surgem diante dos homens em beleza, esplendor, perfeição e poder e
os levam a ver uma outra realidade, escondida sob a realidade cotidiana, na
qual o espaço, o tempo, as formas dos seres, os sons e as cores, os elementos
encontram-se organizados e dispostos de uma outra maneira, secreta e
verdadeira. A divindade, levando um humano ao seu mundo, desvenda-lhe a verdade
e o ilumina com sua luz.
Era isso, como vimos, o que
significava a palavra grega aletheia,
a verdade como manifestação ou iluminação. A iluminação pode ser terrível,
porque é dado a um humano ver o que os olhos humanos não conseguem ver, ouvir o
que os ouvidos humanos não podem ouvir, conhecer o que a inteligência humana
não tem forças para conhecer. As religiões indígenas e a grega são desse tipo.
Há religiões em que o deus
revela verdades aos humanos, sem fazê-los sair de seu mundo. Podem ter sonhos e
visões, mas o fundamento é ouvir o que a divindade lhes diz, porque dela provém
o sentido primeiro e último de todas coisas e do destino humano. O que se
revela não é a verdade do mundo, através da viagem visionária a um outro mundo:
o que se revela é a vontade do deus, na qual o crente confia e cujos desígnios
ele cumpre. Era isso o que significava, como vimos, a palavra hebraica emunah, “assim seja”. Judaísmo,
cristianismo e islamismo são religiões da revelação.
Nas duas modalidades de
religião, porém, a manifestação da verdade e a revelação da vontade exprimem o
mesmo acontecimento: aos humanos é dado conhecer seu destino e o de todas as
coisas, isto é, as leis divinas.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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