Crítica às concepções essencialistas
A concepção essencialista da
natureza humana percorre toda a tradição filosófica do mundo ocidental, com
algumas tentativas esparsas de crítica à concepção abstrata de modelo.
No século XIX, Marx rejeita
explicitamente a concepção de uma natureza humana universal. Para ele, os
homens são seres práticos e se definem pela produção e pelo trabalho coletivo,
o que significa que não há, de um lado, a essência e, de outro, a existência
humana, nem homens isolados e dotados de uma essência comum a todos os outros.
Os homens, reunidos na esfera das relações sociais, criam valores e definem
objetivos de vida a partir dos desafios encontrados na atividade produtora da sua
existência. Portanto, são as condições econômicas que definem os modelos
sociais em determinadas circunstâncias. É nesse sentido que Marx critica o
caráter a-histórico e abstrato das concepções metafísicas, recusando-se a definir
o que o homem é "em si" abstratamente, a fim de compreendê-lo como homem
real em determinado contexto histórico-social.
Mais vozes, ainda no século XIX,
se ergueram contra a concepção tradicional. Kierkegaard, Stirner, Nietzsche
propõem reflexões sobre a concretude da vida humana na realidade cotidiana. Tem
igual propósito a fenomenologia, corrente filosófica fundada por Husserl e
cujos principais seguidores, no século XX, são Max Scheler, Heidegger, Sartre,
Merleau-Ponty, entre outros.
Para Sartre, principal
representante do existencialismo francês, só as coisas e os animais são
"em si". O homem, sendo consciente, é um "ser-para-si",
aberto à possibilidade de construir ele próprio sua existência. Por isso, é possível
falar da essência de uma mesa (aquilo que faz com que uma mesa seja mesa) ou da
essência do animal (afinal, todos os leões têm as características próprias de
sua espécie), mas não se pode falar de uma natureza humana encontrada
igualmente em todos os homens, pois “o homem não é mais que o que ele
faz".
Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e
MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000
(edição digital).
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