Tornar-se homem
O homem não nasce homem, pois
precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por antropólogos
e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus
semelhantes, permaneceram como se fossem animais.
Na Alemanha, no século passado,
foi encontrado um rapaz que crescera absolutamente isolado de todos. Kaspar
Hauser, como ficou conhecido, permaneceu escondido por razões não esclarecidas.
Como ninguém o ensinara a falar, só se tornou propriamente humano quando sua
educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que possuía inteligência
excepcional, até então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.
O caso da americana Helen Keller
é similar, embora as circunstâncias sejam diferentes. Nascida cega, surda e muda,
mesmo vivendo entre seus familiares a menina permaneceu afastada do mundo humano
até os sete anos de idade, quando a professora Anne Sullivan lhe tornou
possível a compreensão dos símbolos, introduzindo-a no mundo propriamente
humano.
Esses casos extremos servem para
ilustrar o processo comum pelo qual cada criança recebe a tradição cultural,
sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se
capaz de agir e compreender a própria experiência.
A linguagem simbólica e o
trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o
homem dos animais. Vamos, então, reforçar algumas características desse
"estar no mundo" tão típico do ser humano.
Não se pode dizer que o homem tem
instintos como os dos animais, pois a consciência que tem de si próprio o
orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade, submetidas
de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assumidas pelo
próprio indivíduo. O homem foi "expulso do paraíso" a partir do
momento em que deixou de se instalar na natureza da mesma forma que os animais
ou as coisas.
Assim, o comportamento humano
passa a ser avaliado pela ética, pela estética, pela religião ou pelo mito.
Isso significa que os atos referentes à vida humana são avaliados como bons ou
maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoados por Deus, e assim por diante.
Essa análise é válida para
qualquer outra ação humana: andar, dormir, alimentar-se não são atividades
puramente naturais, pois estão marcadas pelas soluções dadas pela cultura e,
posteriormente, pela crítica que o homem faz à cultura.
Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e
MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000
(edição digital).
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