Pensar a Beleza (Parte 09/12)
Gustav Klimt (Baumgarten, Viena, 14 de julho de 1862 - Viena, 6 de fevereiro de 1918)
foi um pintor simbolista austríaco.
Baumgarten e o Belo
É no contexto acima que Baumgarten inaugura, em sua obra Estética, essa ciência ou teoria da beleza, “(...) como arte de pensar de modo belo, como arte análoga da razão (...)” (BAUMGARTEN, 1997, p. 74), como “(...) ciência do conhecimento sensitivo (...)” (Ibidem). Por que conhecimento do belo? Conhecimento sensitivo?.
O saber filosófico privilegia os conceitos: abstrações e sínteses que reúnem diversas idéias numa espécie de chave-geral, a partir da qual se compreende uma visão de mundo, uma teoria. Esses conceitos, por serem abstratos, foram supervalorizados e passaram a ter como que existência própria. Assim a filosofia construiu a chamada Metafísica. Uma dimensão do saber que, por referir-se ao que está além do físico, do material, parece ter dado as costas ao que é sensível. O pensamento conceitual, próprio da filosofia, durante muitos séculos deixou em segundo plano o terreno do mundo prático, da sensibilidade e dos afetos humanos.
Nesse sentido é que Baumgarten refere-se à Estética como um conhecimento do sensível, que se utilizará de um instrumento análogo à razão: a representação sensível. Não se pode compreender a dimensão da sensibilidade humana com os mesmos instrumentos do pensamento abstrato. O que não quer dizer que se abandonará a razão, ou se reduzirá à natureza pura, mas que, como conhecimento, com sua pretensão de garantia, universalidade e generalidade, de validade enfim, precisaremos tanto da razão quanto do corpo.
Na história da filosofia esse impasse entre conhecimento sensível e racional é recorrente. É próprio da filosofia a discussão sobre a relação entre o particular e o universal, sensível e racional, natural e o espiritual. Como se dá, por exemplo, a relação entre a reflexão teórica, abstrata e a experiência sensível, na produção do conhecimento dito verdadeiro? O que garante a verdade? Essa é uma das questões que a filosofia aborda ao se deparar com a realidade sensível.
É preciso compreender a sensibilidade como uma companheira do pensamento conceitual, abstrato. Na discussão estética não se pode cair numa disputa sobre qual gosto é melhor ou pior, nem contentar-se com as simples impressões sensíveis que cada sujeito possui. Deve-se compreender intelectualmente como se dá o conhecimento sensível e como ele se relaciona com a razão.
O meio-termo entre os objetos matérias, as coisas e o pensamento, a partir do qual se pode falar em conhecimento é a representação. O mundo sensível se dá ao pensamento a partir da representação, isto é, as coisas reais são apreendidas em nossa mente ao se converterem em imagens. Esse conhecimento sensitivo, segundo Baumgarten é um “(...) complexo de representações que subsistem abaixo da distinção” (Idem, p. 79). Distinção entende-se por compreensão científica do mundo. Ocorre que, antes de conhecermos algo cientificamente, ele se nos apresenta como representação, ou seja, o objeto do saber não vai ao pensamento diretamente. Entre a esfera do pensamento puro e da realidade objetiva a representação é uma forma que o homem tem de conhecer a realidade. A compreensão da sensibilidade passa pelo contorno das representações. Aí não se trata de uma realidade pura e abstrata das coisas, nem de uma idealidade racional, mas de como aquilo que é sensível se torna representável e belo.
Para Baumgarten, o belo é fruto de um consenso, de um acordo comum. Na parte III da sua Estética ele insere as três noções de consenso: “(...) o consenso dos pensamentos entre si em direção à unidade (...)” (Idem, p. 79); “(...) o consenso da ordem (...)” (Idem, p. 80); “(...) consenso interno dos signos e o consenso dos signos com a ordem e com as coisas (...)” (Ibidem). Isso quer dizer que não se está falando do gosto individual, subjetivo apenas. Mas num acordo comum. Esse acordo entre pensamento, ordem e signos exige que os indivíduos tenham uma destreza, uma perspicácia, imaginação, sutileza de espírito, gosto refinado e apurado, enfim uma aptidão para reconhecer e expressar a força e a elegância de objetos belos.
O consenso e harmonia que se dão entre os que possuem essas qualidades, se conquistam pelo “exercício estético”, isto é, uma contemplação constante, um convívio regular com as obras de arte, o que permitiria uma “(...) gradual aquisição do hábito de pensar com beleza (...)” (Idem, p. 87), podem garantir a universalidade do belo.
O nascer do Sol (1753), óleo sobre tela de François Boucher.
Coleção Wallace Boucher (1703-1770).
Leveza, liberdade, sensualidade, ligação com a natureza, estão representadas nessa obra. Pode-se perceber a contraposição de qualquer preocupação com a lei, com as regras, com a necessidade do trabalho, enfim, é uma viagem à sensualidade, ao corpo, à natureza.
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