Filosofia e Método (Parte 09/13)
Descartes e as regras para bem conduzir a Razão
Uma das obras mais fundamentais da filosofia chama-se Discurso do Método e traz o seguinte subtítulo: “para bem conduzir sua razão e buscar a verdade nas ciências”. Será que não é pretensão demais para um texto escrito de forma autobiográfica? A trajetória do texto e o poder que exerceu sobre a tradição posterior revelam que não. O Discurso do Método é uma obra destinada, inicialmente, a servir de prefácio a três ensaios do filósofo e matemático Descartes: a Dióptrica, os Meteoros e a Geometria. Os dois primeiros só interessam hoje aos historiadores do pensamento cartesiano. Já o terceiro teve ampla divulgação entre os matemáticos, por razões que veremos mais tarde. Quanto ao Discurso, dividido em seis partes, apesar de Descartes dizer que seu propósito era apenas “(...) mostrar de que maneira ele se esforçou para bem conduzir sua razão.” (Descartes, 1962) frase que devemos atribuir à modéstia de Descartes, na verdade a obra expõe com clareza uma série de argumentos que permitem à filosofia fundamentar todo o edifício do saber.
Na segunda parte do Discurso, Descartes enumera quatro preceitos que devem conduzir a ciência. Acompanhemos o texto do filósofo:
O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1962)
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