"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Em busca da essência do político (Parte 12/13)

índias da tribo Xingu

A Autoridade do Chefe Sem Poder

Como sustentar a tese que os indígenas não eram submetidos a um poder externo se eles tinham um chefe?

O chefe indígena, geralmente era dos membros mais velhos da aldeia, tinha a autoridade e a exercia diariamente, o que não significa dizer que ele comandava, que tinha poder sobre os demais membros da comunidade. Não havia poder coercitivo, o papel do chefe se assemelhava ao de um árbitro na busca da conciliação entre as partes conflitantes.

O chefe só exercia o poder sobre a sociedade em tempos de guerra, porque em tempos de paz, a comunidade era capaz de autogoverno, sem a necessidade de poderes externos, sem coerção e sem violência.

Mas, como se constituía e como se efetivava essa autoridade pacífica e pacificadora do chefe? Embora de maneira bem diferente daquela utilizada pelos atenienses, a retórica também era fundamental no exercício do autogoverno das aldeias indígenas.

Na política ateniense, como já vimos, a retórica pertencia ao povo, ela era um instrumento de exercício do debate na tentativa de conciliar as posições divergentes e conflitantes para viabilizar a construção da unidade da comunidade. Para os gregos a retórica se dá pela oposição, pelo confronto.

Na aldeia indígena, a retórica pertencia ao chefe, era ele quem dirigia a palavra à comunidade. O chefe deveria ser um bom orador, e o objetivo da sua retórica era manter a ordem e, conseqüentemente, manter viva a tradição e a unidade da aldeia. O discurso do chefe se voltava para o passado com o intuito de garantir o futuro.

A retórica indígena se dava, como vimos, pelo monólogo ritualizado do chefe, que repetia sempre o mesmo discurso, uma espécie de um artifício para evitar o confronto de posições, que, por outro lado, foi a marca da política ateniense.

A conclusão de Wolff é instigante: “entre essas duas maneiras de utilizar a retórica, há toda a distinção existente entre uma comunidade que evita a política e uma outra que inventa a política. (...) Uma inventa o político fazendo tudo para conjurar o risco da política, outra inventa o político inventando também a política, ou seja, pela primeira vez e em uma das raras vezes na história, fazendo política”. (WOLFF, 2003, p.48)

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