Pensar a Beleza (Parte 11/12)
Friedensreich Hundertwasser (1928 - 2000)
A Passagem
Pode-se compreender melhor esse médium das duas dimensões humanas com dois exemplos: uma equação matemática não é verdadeira apenas por ser logicamente correta, mas também por ser bela. Seu poder de verdade não está unicamente preso ao seu rigor lógico. A verdade precisa também ser bela e agradável. Não procuramos o saber, o conhecimento, a verdade de algo apenas porque a nossa razão nos pede isso, mas porque esse objeto nos atrai, nos causa algum prazer, e esse prazer é estético.
Num outro caso pode-se pensar a ação moral: ela não é considerada boa e louvável apenas porque segue as leis e a ordem da tradição. É louvável porque também é bela. E será tanto mais bela quanto mais fora estiver da obrigatoriedade, sem a coação externa. Será bela se for de puro e bom grado, sem esperar nada em troca, ou seja, uma ação livre. Isso quer dizer que a nossa mudança de estado puramente material, para o espiritual – aqui não apenas no sentido religioso, mas no sentido do pensamento, da abstração – que pensa e concebe as coisas, se dá pela fruição da beleza, no estado estético. Ela nos coloca em equilíbrio com nossas faculdades da abstração e da intuição.
Se na percepção sensível são os sentidos que comandam e no pensamento é o intelecto, a razão, então que faculdade humana é característico do estado estético? Ele está sob o comando da imaginação, segundo Schiller. Um jogo de imaginação que tira os objetos da simples funcionalidade, de seu uso puramente prático, que tira o outro da sua obscuridão e distância, que me retira da individualidade egoísta e me coloca em contato com a universalidade, com a totalidade dos seres humanos, com a humanidade. À medida que a imaginação coloca o homem em contato mais íntimo com os outros e com as coisas, ela também impede que caiamos na pura abstração do mundo e nos percamos nas divagações abstratas sem qualquer vínculo com a realidade.
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