"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Filosofia e Método (Parte 03/13)


Um exemplo que nos ajuda a entender isso é pensar naquilo que você compreende quando houve a palavra Justiça. Se relacionarmos o que as pessoas entendem por justiça, teremos uma gama variada de definições, muitas contraditórias entre si. Além disso, a própria aplicação do conceito à realidade, no sentido de esforçar-se por ser justo, não é condição suficiente para que saibamos exatamente o que é justiça. Suponhamos que você diz que agir com justiça é devolver a alguém o que lhe pertence (cf. República 331e-332c), e dá como exemplo a devolução, ao dono, de uma arma que você encontrou. Alguém pode protestar que teria sido mais racional e justo evitar a devolução, pois a arma poderia ser usada para ferir alguém. É isso que preocupava Platão. Muitas noções que temos sobre justiça e outros conceitos importantes esfacelam-se diante de certas circunstâncias. Platão se perguntava se não haveria um meio de evitar essa ambigüidade em que diferentes situações exigirão de nós diferentes noções disto ou daquilo. Ele estava consciente de que se não houvesse um modo de chegar a uma visão unitária da justiça, jamais haveria possibilidade de entendermos a real essência do conceito. Pior que isso, os que cometem crimes ou violência teriam sempre à mão um argumento para justificar suas ações.


A importância vital das Formas vai muito além da República. Na concepção platônica da filosofia, todas as inquirições em termos abstratos, que afinal se destinam a informar a nossa visão do mundo não-abstrato, necessitam de um objeto de estudo; as Formas oferecem algo de lúcido e real a examinar, ao passo que o mundo físico, devido a sua ambigüidade, imperfeição e corruptibilidade, é aparentemente insusceptível de estudo. Isto é, compreender a justiça das leis do nosso mundo ou a beleza das pessoas pressupõe um claro conhecimento especulativo da justiça e da beleza “em si mesmas”. A questão continua a ser a compreensão deste mundo. Mas o que é a justiça de uma lei e a de uma pessoa? Que estudamos realmente, quando estudamos uma lei justa? Platão apela para as Formas: a “participação” da Forma da Justiça, numa pessoa ou numa lei, torna justo quanto exista nessa pessoa, nessa lei. Por outras palavras, tudo o que é justo, numa pessoa ou numa lei, reflete as propriedades da Forma da Justiça, tal como a massa de uma mesa e as propriedades dessa massa são realmente a massa dos átomos constituintes. (PAPPAS, 1996).

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