"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A produção sociológica brasileira (Parte 08/08)


Hum... Iguais condições? Será?
 
Imagine só... De um dia para outro todos os negros, os que antes foram de maneira desumana tratados como “coisas” e úteis apenas para o trabalho, tornaram-se livres para atuarem nas empresas e comércio da época, se é que assim podemos chamar os empreendimentos daquele tempo, isto é, em 1888.
 
Os negros tentaram, mas “(...) viram-se repudiados, na medida em que pretenderam assumir os papéis de homem livre com demasiada latitude de ingenuidade, num ambiente em que tais pretensões chocavam-se com generalizada falta de tolerância, de simpatia militante e de solidariedade.” (FERNANDES, 1978: 30-31).
 
Afinal, quem é que daria emprego a um homem que “até ontem à tarde” era não mais que um pertence de alguém, isto é, um utensílio de um senhor?
E se você fosse um patrão na época da Abolição, daria trabalho a tal pessoa em sua loja? Hoje, no Brasil, ainda podemos encontrar muitos problemas quanto à aceitação da diversidade cultural, apesar dos muitos movimentos que combatem a desigualdade racial e social nas mais diversas áreas da sociedade. Esses problemas são, na verdade, heranças de um passado, que fora muito pior.
Vamos “voltar” no tempo e tentar imaginar a cena de um negro, recém-liberto, pedindo emprego. Talvez o diálogo fosse esse:

- Senhor, há vagas para trabalho na sua loja?
- Vossa Senhoria tem experiência profissional? Sabe ler e escrever?
- Não, Senhor. Eu era apenas um escravo.
 
Ora veja, ainda que o discurso das elites privilegiasse a liberdade dos negros, eles não tinham condições de igualdade na concorrência com os brancos,
 
“como não se manifestou nenhuma impulsão coletiva que induzisse os brancos a discernir a necessidade, a legitimidade e a urgência de reparações sociais para proteger o negro (como pessoa e como grupo) nessa fase de transição, viver na cidade pressupunha, para ele, condenar-se a uma existência ambígua e marginal.” (FERNANDES, 1978: 20).
 
Segundo Florestan, para os negros e os mulatos apenas duas portas se abriam, pois...
 
“vedado o caminho da classificação econômica e social pela proletarização, restava-lhes aceitar a incorporação gradual à escória do operariado urbano em crescimento ou abater-se penosamente, procurando no ócio dissimulado, na vagabundagem sistemática ou na criminalidade fortuita meios para salvar as aparências e a dignidade de “homem livre. (FERNANDES, 1978:20).
 
Portanto, pela interpretação de Florestan, a inexistência de um plano de incorporação do negro, elaborado pela sociedade que o libertou, com estratégias de aceitação social dos mesmos, foi fator importante que contribuiu para sua marginalidade social.

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