"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Helenismo (Parte 05/07)

Busto de Epicuro

OS EPICUREUS - (Páginas 149-151.)

Como vimos, Sócrates queria descobrir como o homem podia levar uma boa vida. Na interpretação de Sócrates feita pelos cínicos e estóicos, isto estava na necessidade de o homem se libertar de todo o luxo material. Mas Sócrates também teve um aluno chamado Aristipo. Para ele, o objetivo da vida seria obter dos sentidos o máximo possível de satisfação. Aristipo dizia que o prazer era o bem supremo, e a dor, o mal supremo. Assim, seu objetivo maior era desenvolver uma filosofia de vida capaz de afastar toda e qualquer forma de dor e sofrimento. (O objetivo dos cínicos e dos estóicos era suportar todas as formas de dor, e isto é algo completamente diferente de fazer todo o esforço para tirar do caminho a dor.)
Por volta de 300 a.C. Epicuro (341-270 a.C.) funda em Atenas uma escola filosófica: a escola dos epicureus. Ele desenvolveu ainda mais a ética do prazer de Aristipo e a combinou com a teoria do átomo de Demócrito.
Conta-se que os epicureus reuniam-se num jardim. Por esta razão, também eram chamados de “filósofos do jardim”. Dizem também que sobre o portão de entrada do jardim havia a seguinte inscrição: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”.
Epicuro ensinava que o resultado prazeroso de uma ação sempre deve ser ponderado em relação a seus eventuais efeitos colaterais. Se você já comeu chocolate demais, então você entende o que digo. Se não, vou lhe propor uma tarefa: pegue todas as suas economias e gaste cem coroas em chocolate. (Estou partindo do pressuposto de que você gosta de chocolate.) O importante nesta tarefa é que você coma todo o chocolate de uma só vez. Mais ou menos meia hora depois de ter comido todo esse delicioso chocolate você vai entender o que Epicuro queria dizer quando falava em “efeitos colaterais”.
Epicuro também achava que o resultado prazeroso de curto prazo devia ser ponderado em relação a um prazer maior, mais duradouro e mais intenso, a ser obtido em longo prazo. (Podemos imaginar, por exemplo, que durante todo um ano você não compre chocolate porque prefira economizar sua mesada para comprar uma bicicleta nova, ou então para fazer uma viagem ao exterior.) Diferentemente dos animais, o homem tem a possibilidade de planejar a sua vida. Ele possui a capacidade de “calcular o seu prazer”. Um delicioso chocolate é, sem dúvida, um valor, mas a bicicleta nova ou a viagem à Inglaterra também o são.
Epicuro fazia questão de enfatizar, porém, que “prazer” não significa necessariamente satisfação dos sentidos (por exemplo, comer chocolate). A amizade ou a sensação vivenciada ao se admirar uma obra de arte também podem ser muito prazerosas. Além disso, outros pressupostos para o prazer da vida são os velhos ideais gregos do autocontrole, da temperança e da serenidade. Isto porque o desejo precisa ser controlado. Assim, a serenidade também nos ajuda a suportar a dor.
Com freqüência, pessoas acometidas por temores de origem religiosa procuravam o jardim de Epicuro. Nesse caso, a teoria do átomo de Demócrito era extremamente útil contra a religião e a superstição. Para viver uma boa vida também era importante se libertar do medo da morte. Nesta questão, Epicuro retomava a teoria de Demócrito sobre os “átomos da alma”. Talvez você ainda lembre que Demócrito não acreditava na vida depois da morte, já que após a morte os “átomos da alma” se dispersavam para todos os lados.
“Por que ter medo da morte?”, perguntava Epicuro. “Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser.” (Visto deste ponto de vista, de fato ninguém jamais foi incomodado pelo fato de estar morto.)
O próprio Epicuro resumia sua filosofia libertadora naquilo que ele chamava de quatro remédios:

Não precisamos temer os deuses. Não precisamos nos preocupar com a morte. É fácil alcançar o bem. É fácil suportar o que nos amedronta.

Na Grécia não era novidade comparar a atividade do filósofo com a do médico. Nesse sentido, o homem precisa ter sempre à mão uma “farmacinha filosófica de bolso” que contenha os quatro remédios importantes que mencionei acima.
Contrariamente aos estóicos, os epicureus quase não se interessavam pela política e pela sociedade. “Vive em reclusão!” era o conselho de Epicuro. Talvez possamos comparar o seu jardim com as comunidades de nossos dias. Nesta época em que vivemos, muitas pessoas buscam uma ilha, um “porto seguro” em meio ao turbilhão da sociedade.
Depois de Epicuro, muitos epicureus evoluíram sua reflexão no sentido de uma busca unilateral do prazer. Sua palavra de ordem era: “Viver o momento!”. A palavra “epicurista” é freqüentemente usada em nossos dias de forma pejorativa, para designar alguém que só vive pelo prazer.

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