A Guerra no Brasil (Parte 07/09)
sobre a vinda de imigrantes judeus para o Brasil, 1941.
Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ VF c 1939.09.30)
Cotidiano da guerra
Com o desenrolar da guerra iniciada na Europa em 1939, o petróleo começou a rarear no Brasil, pois os países produtores reduziram as exportações. Os transportes, quer por via marítima, rodoviária ou ferroviária, começaram a se aproximar perigosamente de um colapso. Em conseqüência foram feitas adaptações nos veículos movidos a gasolina, que passaram a utilizar o gasogênio, aparelho que produz combustível pela queima de carvão. Em 1941 entraram em circulação em São Paulo os ônibus a gasogênio. Outra medida importante foi o racionamento dos derivados de petróleo, decretado em 7 de maio de 1942.
Os problemas na área de transportes repercutiram imediatamente nos outros setores da economia e, em última instância, no abastecimento. Houve uma escassez geral de gêneros alimentícios e produtos industriais, o que provocou uma alta alarmante de preços. Quando, em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo e entrou formalmente na Segunda Guerra Mundial, as dificuldades se agravaram ainda mais.
A necessidade de transformar a economia imposta pela situação de guerra obrigou o governo a criar, em 28 de setembro de 1942, a Coordenação da Mobilização Econômica, nomeando para presidi-la João Alberto Lins de Barros. A indústria, a lavoura e os transportes, indiscutivelmente os setores mais atingidos pela guerra, mereceram desde logo as atenções do novo órgão. Preocupada com as dificuldades de abastecimento e a "ganância sem limites dos aproveitadores", a Coordenação tentou controlar estoques e organizar o racionamento de artigos de primeira necessidade, o que gerou protestos dos produtores e a formação de um mercado paralelo. Indústrias como as de tecidos, aniagem, calçados e remédios foram submetidas a rigorosa regulamentação, que pretendia obrigá-las a produzir artigos de qualidade a preços inferiores.
Apesar dessas medidas, a carestia tornou-se o tema de todas as conversas, e o governo perdeu apoio principalmente na classe média. Com o objetivo de angariar fundos para a economia de guerra, os funcionários públicos de todo o país passaram a receber 3% de seu salário em Obrigações de Guerra, e em 1944 foi instituído o imposto sobre lucros extraordinários. Paralelamente, os meios de comunicação iniciaram um trabalho de conscientização da população para o enfrentamento das dificuldades. A empresa distribuidora de gás no Rio de Janeiro, por exemplo, espalhou cartazes visando à redução do consumo: "Aproveitem o verão para reduzir ainda mais o consumo de gás comendo pratos frios. A senhora defenderá assim a sua saúde e o seu bolso e contribuirá para a vitória do Brasil, pois toda diminuição no fornecimento de gás representa um aumento na produção de coque para a indústria de guerra."
Além de enfrentar restrições ao consumo, a população se exercitava no uso de máscaras contra gases e era orientada sobre como proceder em casos de bombardeios aéreos. Por precaução, começou-se a praticar o blackout total em toda a orla marítima do país. Em setembro de 1942, por segurança, o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, ficou três noites na mais completa escuridão.
Intensificou-se a propaganda de guerra com o apelo ao alistamento voluntário, ao apoio aos países aliados e à repulsa aos países do Eixo. Adotaram-se medidas de rígido controle sobre os estrangeiros, principalmente os oriundos dos países inimigos, suspeitos de formar uma quinta coluna no país. Instituiu-se o salvo-conduto, documento obrigatório para viagens pelo interior. No sul do país, onde era forte a colonização de origem alemã, as medidas foram ainda mais severas, sendo inclusive proibido o ensino de língua estrangeira nas escolas, como parte do projeto de nacionalização do ensino posto em prática pelo Ministério da Educação.
Data igualmente desse período a intensificação dos pedidos de entrada no Brasil de refugiados judeus. Entretanto, devido a resistências dentro e fora do governo a este e a outros grupos de imigrantes, e diante da ausência de uma política imigratória definida, poucos estrangeiros entraram no país durante os anos de guerra. Entre 1942 e 1945, apenas 235 judeus entraram legalmente no Brasil.
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