Filinto Müller
Filinto Strubing Müller nasceu em Cuiabá, em 1900, pertencente a uma família de tradição na política matogrossense. Seu pai, Júlio Frederico Müller, foi prefeito de Cuiabá por várias vezes durante a República Velha e seus irmãos Fenelon e Júlio Müller foram interventores federais no estado durante o primeiro governo de Getúlio Vargas.
Militar, ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em 1919. Em 1922, após o fracassado levante militar deflagrado na capital do país contra o governo federal, que deu início às revoltas tenentistas, foi preso sob acusação de ter participado dos preparativos insurrecionais, permanecendo na prisão por cinco meses. Em 1924, quando servia em Quitaúna (SP), voltou a se envolver nas lutas tenentistas, desta vez exercendo papel ativo na ocupação da capital paulista pelas forças rebeldes, que durou três semanas. Participou também da retirada dos revolucionários da cidade em direção ao estado do Paraná, após constatada a impossibilidade de resistir ao cerco das forças legalistas. Exilou-se, então, na Argentina. A maioria dos rebeldes paulistas, no entanto, juntou-se aos militares gaúchos que também se haviam levantado naquele ano, sendo criada, assim, a Coluna Prestes. A não integração de Filinto Müller ao exército guerrilheiro que percorreu o interior brasileiro entre 1925 e 1927 é assunto controverso, existindo versões que o acusam de ter desertado quando exercia posto de comando na Coluna. Retornou ao Brasil em 1927, ficando preso por cerca de dois anos e meio.
Em 1930, teve participação discreta no movimento político-militar que pôs fim à República Velha e levou Getúlio Vargas ao poder. Após a instalação do novo regime, foi nomeado oficial-de-gabinete do ministro da Guerra, general Leite de Castro. Em seguida, foi secretário do interventor federal em São Paulo, João Alberto. Em 1932, colaborou no combate à Revolução Constitucionalista promovida pelos paulistas. Em abril do ano seguinte, alcançou o posto de chefe de Polícia do Distrito Federal, permanecendo nesse cargo por quase uma década.
No primeiro semestre de 1935, formulou acusações contra a Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente política de caráter antifascista que reunia diversos setores de esquerda, que vivia, então, um intenso processo de crescimento. Segundo Filinto, a ANL não passava de uma organização comunista que obedecia às orientações da União Soviética. Com a decretação da ilegalidade da Aliança pelo governo, no mês de julho daquele ano, alguns de seus membros iniciaram a preparação de uma insurreição armada para depor Vargas, deflagrada em novembro. Agindo rápido, Vargas sufocou o movimento, que atingiu as cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, e iniciou perseguições indiscriminadas contra os setores de oposição, vinculados ou não ao levante. Nesse contexto, ganhou destaque a atuação de Filinto Müller à frente da chefia de polícia. Por diversas vezes foi acusado de promover prisões arbitrárias e utilizar-se da tortura no trato aos prisioneiros. Ganhou repercussão internacional o caso da judia alemã Olga Benário, militante comunista e mulher de Luís Carlos Prestes, que por sua ordem foi deportada para um campo de concentração nazista na Alemanha, onde foi executada em 1942.
Ainda no final de 1937, logo após a instalação da ditadura do Estado Novo, Filinto havia visitado a Alemanha em caráter oficial, e lá se encontrara com Heinrich Himmler, chefe da polícia política nazista, a Gestapo. Em 1938, dirigiu o aparelho repressivo do governo contra os membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização política de inspiração fascista, que haviam promovido uma frustrada tentativa de depor Vargas. Nesse mesmo ano, bacharelou-se pela Faculdade de Dioreito de Niterói (RJ).
Simpático à aproximação entre o Brasil e as potências do Eixo, começou a perder espaço dentro do governo quando Vargas passou a sinalizar no sentido do apoio aos Aliados, na II Guerra Mundial. Em julho de 1942, tentou proibir uma manifestação pró-Aliados promovida pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Autorizada por Vasco Leitão da Cunha, que respondia interinamente pelo Ministério da Justiça, a manifestação acabou se realizando, com enorme repercussão. O fato abriu grave crise no governo, resultando no afastamento de Filinto da chefia de polícia do Distrito Federal. Foi designado, então, oficial-de-gabinete do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra.
Em 1945, iniciado o processo de redemocratização do país, foi um dos fundadores do Partido Social Democrático (PSD), organizado nacionalmente com o apoio dos interventores federais nos estados e membros do regime varguista.
Em 1947, conquistou uma cadeira no Senado pelo estado do Mato Grosso. Em 1950, disputou a eleição para o governo daquele estado mas foi derrotado. Em 1955, voltou a eleger-se senador, reelegendo-se consecutivamente em 1962. Teve destacada atuação no Senado, exercendo a liderança do PSD e, posteriormente do governo Kubitscheck naquela Casa. Após a implantação do regime militar,em 1964, e a extinção dos antigos partidos, filiou-se à situacionista Aliança Renovadora Nacional (Arena), legenda pela qual reelegeu-se ao Senado em 1970. Ocupou a liderança da Arena e do governo no Senado, bem como a presidência nacional do partido. Em 1973, assumiu a presidência do Senado.
Morreu num acidente aéreo em Paris, em 1973.
Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001.
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