O Brasil na Guerra (Parte 01/09)
(CPDOC/ HB foto 062/19)
Em represália ao rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo, a partir de janeiro de 1942 vários navios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães. A esses incidentes seguiu-se uma forte mobilização popular em favor da entrada do país na Segunda Guerra Mundial para lutar ao lado dos Aliados contra o nazi-fascismo. O governo brasileiro finalmente declarou guerra à Alemanha e à Itália em agosto de 1942, mas só após ajustes difíceis com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que levou o Brasil ao teatro de operações na Itália. A contradição entre lutar a favor da liberal-democracia ao lado dos Aliados na Europa e manter uma ditadura no país em muito contribuiria para a queda de Vargas e o fim do Estado Novo em 29 de outubro de 1945.
O rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo, anunciado ao final da Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1942, tornou os navios brasileiros alvo de ataques dos submarinos alemães. Nos sete meses seguintes cerca de 19 navios mercantes brasileiros foram torpedeados na costa do país, causando centenas de perdas humanas. Nesse momento foi de fundamental importância a ação de patrulhamento do Atlântico Sul realizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), que mais tarde também iria atuar no front italiano.
A indignação provocada pelos torpedeamentos fortaleceu a campanha em favor da entrada do Brasil na guerra, da qual participavam diversas entidades, entre elas a União Nacional dos Estudantes(UNE). Em resposta aos apelos da sociedade, finalmente o Brasil decretou o estado de beligerância (22 de agosto) e a seguir o estado de guerra (31 de agosto de 1942) contra a Alemanha e a Itália. No mês seguinte, o governo criou a Coordenação da Mobilização Econômica, com o propósito de coordenar o funcionamento da economia no contexto de emergência gerado pelo conflito mundial.
Iniciaram-se então as conversações sobre o envio de um contingente brasileiro à frente de combate. A formação de uma força expedicionária correspondia a um duplo projeto político de Vargas: de um lado, fortalecer as Forças Armadas brasileiras internamente e aos olhos dos vizinhos do Cone Sul, em especial a Argentina, e com isso garantir a continuação do apoio militar ao regime do Estado Novo; de outro lado, assegurar uma posição de significativa importância para o Brasil no cenário internacional, na qualidade de aliado especial dos Estados Unidos. Entretanto, as vitórias aliadas no norte da África, em novembro de 1942, reduziram consideravelmente a importância estratégica do Nordeste do Brasil e, por extensão, as possibilidades de reequipamento das Forças Armadas brasileiras. Preocupado, Vargas insistiu com o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, quando este visitou Natal em janeiro de 1943, no fornecimento do material bélico prometido pelos Estados Unidos e no interesse brasileiro em tomar parte ativa nos combates. Com a concordância de Washington, a Força Expedicionária Brasileira(FEB) foi finalmente estruturada em agosto de 1943. Para seu comando foi convidado o general Mascarenhas de Morais.
Da criação da FEB até o embarque do 1° Escalão para a Itália transcorreu quase um ano. Nesse período, dedicado à preparação e treinamento das tropas, inúmeros foram os desencontros entre Brasil e Estados Unidos, desde os relativos à liberação do equipamento militar necessário para a atuação das forças brasileiras, até os decorrentes da ausência de uma definição quanto à área de atuação da FEB. Finalmente liberados os armamentos norte-americanos de que o Brasil necessitava no início de 1944, e superada a resistência britânica à presença de uma força brasileira no Mediterrâneo, o primeiro contingente de tropas brasileiras embarcou em 30 de junho de 1944 rumo à Itália. Ao longo dos oito meses seguintes, outros quatro escalões seguiram para o teatro de operações. Também a FAB se fez representar com um grupo de aviação de caça e uma esquadrilha de ligação e observação.
O envio da FEB e da FAB ao teatro de operações veio coroar um processo que se iniciara quase quatro anos antes, mas constituiu também o ponto de partida de uma nova etapa, qual seja, a da busca, por parte do governo brasileiro, de participação nos arranjos do pós-guerra que iriam definir uma nova ordem mundial.
Além de ter viabilizado o reequipamento das Forças Armadas, a participação militar direta do Brasil na guerra, num primeiro momento, fortaleceu o regime e ampliou o poder e o prestígio de setores civis e militares da classe governante. No entanto, logo se evidenciou uma contradição, na medida em que o Brasil apoiava as forças aliadas na sua luta contra os regimes autoritários nazi-fascistas e, ao mesmo tempo, mantinha internamente um regime ditatorial que restringia a participação popular. Não demorou muito para que o Estado Novo sofresse os efeitos desse contra-senso. A despeito das medidas liberalizantes adotadas pelo governo, procurando atender às demandas das oposições, um golpe desfechado em 29 de outubro 1945 sob a liderança do alto comando do Exército provocou a queda de Vargas e o fim do Estado Novo.
No plano da política externa, a participação na guerra não chegou a favorecer o objetivo do Brasil de se tornar um ator influente na construção da nova ordem internacional. Na verdade, enquanto o Brasil ainda negociava sua participação militar na luta contra o Eixo, os Aliados já estavam se articulando para a construção do pós-guerra nas Conferências Aliadas. De toda forma, o Brasil participou da Conferência de Paz de Paris em 1946 e obteve um assento não-permanente no Conselho de Segurança da recém-criada Organização das Nações Unidas.
Fonte: CPDOC/FGV
0 Response to "O Brasil na Guerra (Parte 01/09)"
Postar um comentário