"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Estado e Economia (Parte 02/07)

Oswaldo Aranha e Cordel Hull são filmados ao sair da Casa Branca,
por ocasião da Missão Aranha, 1939. Washington (EUA).
(CPDOC/ OA foto 200/5)

Missão Aranha

Nos últimos anos da década de 1930, uma das principais preocupações dos Estados Unidos no campo das relações internacionais era o crescimento das relações comerciais entre Brasil e Alemanha, cuja base residia nos acordos de comércio compensado estabelecidos entre os dois países. Por outro lado, o governo norte-americano, pressionado internamente, era forçado a reivindicar do governo brasileiro o pagamento dos juros da dívida externa e dos atrasados comerciais, que havia sido suspenso em 1937 devido às dificuldades que o Brasil enfrentava em seu balanço de pagamentos. Isso acrescentava à preocupação de Washington com seus interesses comerciais prejudicados um outro temor, dessa vez de cunho político: o de que a instabilidade econômico-financeira do Brasil pudesse favorecer uma maior aproximação não só econômica, mas militar e político-ideológica com a Alemanha.
Convencido de que a guerra era inevitável, e além disso se alastraria para fora da Europa, o governo norte-americano elaborou um plano para assegurar o apoio político e ideológico dos governos latino-americanos. Foi nesse contexto que os Estados Unidos empreenderam uma forte campanha de penetração cultural na América Latina, e que, ainda no início de 1939, atendendo a convite pessoal do presidente Roosevelt, foi enviada a Washington a Missão Aranha. Chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, e contando ainda com a participação do diretor do DASP, Luís Simões Lopes, do diretor do Banco do Brasil, Marcos de Sousa Dantas, e dos diplomatas Carlos Muniz e Sérgio de Lima e Silva, a missão manteve diversas conversações com autoridades norte-americanas entre os meses de janeiro e março.
Como resultado, Brasil e Estados Unidos assinaram uma série de cinco acordos que estabeleciam a concessão de um crédito de US$ 50 milhões para auxiliar a criação de um Banco Central brasileiro; a concessão de um empréstimo de US$ 19,2 milhões do Eximbank para a liquidação de atrasados comerciais e a reativação do intercâmbio comercial entre os dois países; o compromisso desse mesmo banco de financiar vendas norte-americanas para o Brasil com prazos de pagamento e juros favorecidos, e a promessa do governo Roosevelt de facilitar a formação de companhias de desenvolvimento, com capitais americanos e brasileiros, destinadas à industrialização de matérias-primas brasileiras. Em contrapartida, o governo brasileiro assumiu o compromisso de liberar o mercado de câmbio para as transações comerciais, facilitar a transferência de lucros de capitais norte-americanos aplicados no Brasil e retomar o pagamento da dívida externa. A Missão Aranha acertou também a troca de visitas dos chefes de Estado-Maior dos Exércitos americano e brasileiro, respectivamente o general Marshall e o general Góes Monteiro, iniciativa de significado mais político do que militar, visando ao início de uma colaboração que barrasse o aumento da influência militar alemã.
Os resultados econômicos da Missão Aranha não encontraram boa receptividade em alguns setores do governo brasileiro, o que tornou problemática a implementação dos acordos assinados. Embora alguns compromissos tenham sido honrados - como a liberação do mercado de câmbio e a retomada do pagamento da dívida -, não houve uma mudança radical no perfil das relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos, que só seria alterado drasticamente com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Ainda assim, pode-se afirmar que os acordos resultantes da Missão Aranha foram um marco inicial no movimento de aproximação política entre Brasil e Estados Unidos, que iria se aprofundar nos anos seguintes.

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