Necessidade ou fim da arte ? (Parte 05/09)
Arte e a Manifestação do Espírito
Para Hegel, a arte é a primeira manifestação do Espírito Absoluto, já no seu terceiro momento, isto é, o de “retorno-a si”. A arte faz parte da tomada de consciência de si que o Espírito realiza no homem (subjetivamente na sua alma, na razão e no seu espírito; e objetivamente no direito, na moral e na ética) agora de forma absoluta, isto é, pela Idéia. Além da arte, a segunda forma de auto-conhecimento do Espírito é a Religião e a terceira é a Filosofia, uma superando a outra. Elas são três formas de apreensão do Espírito, de sua auto-consciência, e são responsáveis de levar a consciência do homem ao absoluto. A arte é forma sensível de fazer isso.
A arte é a forma sensível pela qual a verdade se dá à consciência humana. Em sua obra Preleções sobre Estética Hegel define a arte como “(...) uma emanação da idéia absoluta (...)” (HEGEL, 1997, p. 149), cujo conteúdo é a “(...) idéia representada numa forma concreta e sensível...” (Ibidem). Sua finalidade é a “(...) representação sensível do belo (...)” (Ibidem) e sua função é de a “(...) conciliar, numa livre totalidade, estes dois aspectos: idéia e a representação sensível.” (Ibidem). Arte faz parte desse processo de autoconhecimento do Espírito que, pelo homem, pode representar, sensivelmente, o belo. Para tanto existem conteúdos que são mais apropriados para a representação artística. Esses conteúdos não podem ser completamente abstratos, pois precisam de uma representação sensível. Mas por ser natural e sensível esse conteúdo não deixa de ser também espiritual, isto é, a natureza não está longe ou oposta ao Espírito, como já afirmamos anteriormente. Há uma unidade entre o geral e o particular, entre o espiritual e o material em Hegel.
Essa unidade é concreta e representável pela arte. A terceira exigência de uma obra de arte é que ela seja figurativa, individual. Qualquer obra tem sua forma material (circular ou quadrada, por exemplo) e seu conteúdo material (madeira ou ferro, por exemplo). Mas na obra de arte ainda existem uma forma espiritual e um conteúdo espiritual. Essas é que dão identidade à obra de arte, isto é, a diferem de qualquer outro artefato feito pelo homem. O específico da arte é essa união entre conteúdo e representação que se encontram numa forma concreta: a obra de arte.
Portanto, não é qualquer forma que pode servir para qualquer conteúdo. Existe uma comunicação, um ligação íntima, na obra de arte, entre a forma e conteúdo. Ambos existem correlatamente, isto é, um não vive sem o outro e não seria a mesma coisa se uma forma exibisse um conteúdo que não lhe fosse apropriado. Observe mais adiante, no desenvolvimento das várias formas de arte, como essa relação entre conteúdo e forma se constrói no curso da criação artística. Se a arte é um meio de tornar acessível um conteúdo, e sobre isso afirma Hegel que “(...) a função da arte consiste em tornar a idéia acessível à nossa contemplação, mediante uma forma sensível e não na forma do pensamento e da espiritualidade pura em geral (...)” (Idem, p. 151), então é preciso que conteúdo e forma estejam de acordo com a idéia a ser expressa. Idéia aqui não significa puramente uma mensagem, mas um conteúdo espiritual. Espiritual, aqui, não se resume ao religioso. Uma vez que Espírito e matéria estão em unidade, então o mundo concreto também é manifestação do espírito. É um espiritual concreto.
Mas a arte, sozinha, não é o melhor meio de apreender o espiritual concreto. A arte precisa do pensamento, que por mais teórico que seja, possibilita que a matéria conforme-se com a verdade. A qualidade de uma obra de arte depende “(...) do grau de fusão de união existente entre a idéia e a forma” (Ibidem). É isso que fundamenta, para Hegel, a hierarquização das diversas formas de arte que ele mesmo vai realizar. As artes mais perfeitas são aquelas que expressão melhor, ascendem mais para a verdade, num processo evolutivo. Essa evolução é evolução do Espírito na tomada de sua consciência própria. Há “uma evolução das representações concretas da arte, das formas artísticas, que, decifradas, dão ao espírito a consciência de si próprio” (Ibidem). A perfeição de uma obra de arte, segundo Hegel, se dá quanto “(...) mais corresponder a uma verdade profunda o conteúdo e a idéia dela” (Idem, p. 153)
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