"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Necessidade ou fim da arte ? (Parte 09/09)


A Rede” – Gustave Courbet

Na forma romântica, a mais espiritual das três, temos a pintura, a música e a poesia, como tipos específicos de arte mais elevados, pois desprendem-se da materialidade e passam a expressar, a partir das suas formas, os conteúdos ideais. A subjetividade, o conteúdo volta-se para si próprio “(...) reentregando a liberdade à exterioridade que, por sua vez, regressa a si mesma, quebra a união com o conteúdo, torna-se- lhe estranha e indiferente” (Idem, p. 166). A arte romântica volta-se para as volições humanas, isto é, para a realidade do ser humano: “(...) a representação artística terá doravante por objeto as mais variadas subjetividades nos seus movimentos e viventes atividades, ou seja, o vasto domínio dos sentimentos, das volições e das inibições humanas.” (Idem, p. 167). E os três elementos materiais que exprimem esse conteúdo são a luz, a cor e o som, na sua forma musical ou na palavra. Esses elementos possibilitarão uma visibilidade do tempo e do espaço, nessas três formas de arte. A luz e a cor são trabalhadas pela pintura que consegue apreender abstratamente o espaço. O som e a apreensão do espaço são elementos da música, que “...exprime o despertar e a extinção do sentimento e forma o centro da arte subjetiva, a passagem da sensibilidade abstrata para a espiritualidade abstrata”(Idem, p. 168). A poesia, “(...) a mais espiritual das artes românticas” (Idem, p. 169), a forma mais perfeita de arte, portanto, que é a expressão do puro sentimento, não subjetivo-individual, mas é a representação das idéias. Na poesia o som “(...) se transforma na palavra articulada, destinada a designar representações e idéias (...)” (Ibidem)

Mas enquanto arte, a forma romântica também possui limitações: “(...) a arte porfia em exprimir, com uma forma concreta, o universal, o espírito (...)” (Idem, p. 159). Há uma distância entre espírito e sua representação. O espírito “(...) constitui a infinita subjetividade da idéia que, enquanto interioridade absoluta, se não pode exprimir livremente, manifestar completamente na prisão corporal em que fica encerrado” (Ibidem). A arte não atinge essa expressão mais pura da verdade que é própria do Espírito: “A idéia, segundo sua verdade, só existe no espírito, pelo espírito e para o espírito” (Ibidem). Essa unidade só se realiza no espírito, na intuição espiritual, livre da representação sensível. Mesmo com essas limitações a arte, para Hegel, oferta a verdade divina à luz da contemplação intuitiva ao sentimento.

A arte está limitada à necessidade da verdade de se revelar diretamente à consciência, isto é, no próprio espírito. A arte, portanto, seria superada quando seria eliminada a necessidade da arte, isto é, o Espírito não teria mais a necessidade de formas sensíveis para expressar-se. Num tempo onde a sociedade civil estaria sob o império das leis e os ideais estariam sendo vividos completamente, a arte se confundiria com a própria vida. Onde os sujeitos estariam regulados pelo Estado (visto como a superação das necessidades individuais) e perderiam sua importância criativa, isto é, suas criações particulares não teriam sentido. A Filosofia sintetizaria as limitações da arte e da religião e arte teria importância apenas na memória das pessoas: “(...) neste grau supremo, a arte ultrapasse-se a si mesma para se tornar prosa, pensamento” (Idem, p. 171). Como nos versos de Hölderlin, poeta alemão, característico dessa arte romântica, que expressa em seus versos a relação, essa proximidade entre poesia e pensamento:



Sócrates e Alcebíade

Por que, divino Sócrates, insistentemente
Veneras este jovem? Não conheces nada maior?
Por que, tal como sobre deuses, voltas
Com amor teu olhar sobre ele?
(...) Quem o mais profundo pensou, ama o mais vivo
Quem olha fundo no mundo, este compreende a elevada juventude
E muitas vezes, ao fim, os sábios se inclinam diante da beleza.
(In: HEIDEGGER, 2002, pg. 119)

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