O cinema e uma nova percepção (Parte 08/09)
Cinematógrafo
Aparelho desenvolvido pelos irmãos August e Louis Lumière, a partir do Cinetoscópio, criado por Thomas Edison, que já projetava algumas imagens em movimento em 1890.
Apenas Distração?
A partir do desenvolvimento das formas de reprodução técnica das artes, pode-se compreender melhor como a relação entre a obra e o público também sofreram alterações. As obras de arte não se dão mais à contemplação pura e abstrata como se pensava na visão tradicional e acadêmica. Parece que o público está muito mais interessado atualmente em diversão. Mas será que a arte reduziu-se então ao puro divertimento, sem nenhuma outra importância ou função maior?
Quando se vai ao cinema, ao teatro, ao show, se faz isso por pura diversão? Apenas por distração ou esquecimento das preocupações cotidianas? O que nos move a freqüentar, consumir ou criar arte? No caso do cinema, por exemplo, mesmo sabendo que o filme seja apenas uma fantasia ou uma ilusão, ainda assim, vale a pena pagar o ingresso?
Sabe-se que não há movimento num filme. O movimento é uma ilusão criada pela rápida seqüência de imagens colocadas em ordem. Além dessa ilusão do movimento, há ilusão de sentido da cena que, na verdade, acontecem juntas e que produzem o sentido do filme como um todo. As descrições das primeiras exibições de filmes no Salon Indien do Grand Café, em Paris, pelos irmãos Lumiére, dão conta do espanto
e terror que os espectadores sentiram quando observaram a imagem de um trem vindo em sua direção. Conta-se que alguns chegaram a pular de suas cadeiras e correr para o fundo da sala. Esse espanto todo é comparável ao espanto que qualquer pessoa tem com uma descoberta tecnológica, mas, nesse caso, há um detalhe a mais: o espanto se transformou em terror. A imagem parecia viva, real, mesmo sabendo que ela era ilusão. Afinal de contas, Lumiére expunha as imagens anteriormente sem movimento. Somente depois, aquela máquina começa a dar vida ao trem. Essa dúvida, ou “meia dúvida”, é que fascina o espectador. Sabe-se que tudo aquilo é uma ilusão, mas acredita-se nesta ilusão por alguns momentos. Uma ilusão que deixa o espectador espantado, emocionado, comovido e que o remete a dimensões de tempos e espaços diferentes do cotidiano, do corriqueiro.
A partir dessa fascinação e encanto que o cinema proporciona pode-se pensar em que condições essa experiência esclarece essa nova forma de ver o mundo, de representá-lo e percebê-lo. Essa ilusão, esse encanto que instiga o espectador a mergulhar não apenas no enredo, na história, mas num clima, num tempo, num espaço, numa paisagem diferente daquilo que vivencia cotidianamente. Essa confusão que se sente diante da tela, do real e do irreal, do medo e da certeza, da angústia e do prazer, mostra que nosso conhecimento intelectual ou técnico não é tão determinante quanto se pensa. Não basta construirmos teorias e explicações racionais e técnicas para desmentir a farsa montada num filme. Ele, no ato mesmo de sua exibição, tem o poder de iludir, de provocar, de questionar e deixar o espectador desconfortado.
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