"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A universalidade do gosto (Parte 03/14)

Émile Durkheim (1858-1917)
 
O Gosto Como um Fato Social

Da mesma forma que o surgimento da Estética ocorreu num contexto social e político determinado, também é possível pensar a questão da beleza como um fato social. Fato social é um conceito da sociologia, proposto por Émile Durkheim, um dos fundadores dessa ciência. Segundo ele os fatos sociais são imposições que a sociedade faz aos indivíduos e que os obrigam a seguir. São os fatos sociais que fornecem o objeto de estudo específico da Sociologia e são caracterizados pela: generalidade, fatos comuns aos indivíduos de determinada sociedade; exterioridade, exteriores ao indivíduo, pois não dependem dele; e coercitividade, obrigam-no a agir dessa ou daquela maneira.

O gosto vai se formando a partir de hábitos, de valores e atitudes que são comumente aceitos. Eles passam a vigorar como corretos e devem ser seguidos por todos. Mesmo que possam provocar reações negativas por parte daqueles que representam e defendam as normas tradicionais, as alterações desses parâmetros são inevitáveis. Com o tempo, as mudanças de hábitos, as novas perspectivas e necessidades acabam por introduzir novos modelos a serem seguidos.

Isso faz pensar que os padrões de gosto são construídos social e culturalmente. As mesmas roupas que se vestem aqui no Brasil não seriam consideradas bonitas ou até moralmente aceitas em países como a Índia, por exemplo. As argolas no pescoço que as mulheres usam em algumas tribos africanas como adereços para embelezar seus corpos, não seriam aceitas da mesma forma aqui. Entretanto, não se pode julgar outros padrões de beleza como melhores ou piores do que o nosso.

Os padrões culturais, portanto, não são estáticos. Nem tudo aquilo que era moda nos anos 40 é aceito mais hoje em dia. Nesse sentido é interessante notar que embora haja essa determinação histórica do gosto, isto é, que ele marca um determinado momento, percebe-se que ele também muda conforme a época. Não é raro, em geral, a moda, por exemplo, voltar de tempos em tempos. Ou ainda, que padrões de uma cultura, mesmo que sejam do passado, possam ser resgatados em outras épocas. Muitos traços dos padrões antigos não são completamente esquecidos no passado. Muitos permanecem presentes e servem, inclusive, como inspiração para a renovação de padrões atuais. Por mais que esses padrões de moda, de beleza e de gosto sejam culturalmente determinados e historicamente mutantes, fica a questão se poderíamos achar um caminho para alguma unidade de juízos de gosto.

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