"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O cinema e uma nova percepção (Parte 03/09)


As Novas Técnicas de Reprodução: Fotografia e Cinema

Não é de hoje que o ser humano procura apreender e controlar o movimento em alguma forma material. Desde o Egito antigo brinquedos eram inventados para reproduzir imagens (de animais ou de homens) em movimento. E mesmo antes dos egípcios, nos primeiros desenhos encontrados nas cavernas, dentro da lógica mágico-religiosa, da qual faziam parte, também já se encontrava a tentativa de controlar o movimento da natureza (dos animais, por exemplo), pois pretendiam invocar aos deuses a inspirá-los na caça. Com o decorrer do tempo, outros objetos foram inventados com o mesmo objetivo, mas foi com a fotografia e, posteriormente, com o cinema que ele foi alcançado com maior êxito.

Primeiramente a fotografia, no final do século XIX, na Europa, que revolucionou a forma de imprimir as imagens, de registrar os fatos, ou de retratar a maneira como se vê o mundo. Imagine que, com a fotografia, muitos pintores ficaram preocupados com o fim de sua arte ante uma técnica mais aprimorada, que fixava as imagens com mais realismo, objetividade e riqueza de detalhes.

Num primeiro momento, a pintura tentou imitar a fotografia ao refinar suas técnicas, aprimorando o realismo de suas imagens, até como uma forma de se recuperar da crise e evitar o seu final trágico diante da nova máquina; num segundo momento, a fotografia provou que se tratava de mais uma linguagem artística, cuja característica principal era de ampliar a capacidade de visão do olho humano, e que em nada pretendia tirar o mérito da pintura. Essa ampliação da visão não apenas no sentido do alcance físico, mas como uma forma de olhar a própria realidade com um outro cuidado, com novas perspectivas, numa nova dimensão de tempo, efeitos e com outros recursos, foi o que a fotografia permitiu.

Com o surgimento do cinema, no início do século XX, na Europa, essa conquista do movimento nas telas, obteve uma repercussão maior. Além de registrar com mais precisão as imagens, as câmeras também podiam, agora, registrar, apreender, guardar, reproduzir e controlar, o movimento, ou pelo menos a sua ilusão. Imagine como ficaram os músicos, poetas e outros artistas com essas novidades! Elas podem ser caracterizadas como arte, ou como uma boa arte? Elas não acabam com aquilo que comumente chamamos de arte? Era o que muitos se perguntavam.

“As árvores têm braços. As pessoas, ramos. E continuam em pé, inexplicavelmente em pé, sob um céu desamparador.” (Eduardo Galeano)

“A areia bebeu a água do Lago Faguibin, o maior da África Ocidental. Os homens migraram em busca de trabalho, deixando para trás mulheres, velhos e crianças. Mali, 1985.” (Contextualização sobre a foto. Texto do site).

Sebastião Salgado, entre 1984 e 1985, fotografou as vítimas da fome no Sahel (África), como voluntário do grupo humanitário francês Médecins sans Frontières (Médicos sem Fronteiras).


Observe como a fotografia é uma forma diferente de mostrar a realidade. É uma máquina, mas que guarda amplas possibilidades de mostrar, denunciar, expressar, criticar, criar a realidade que nos cerca.

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