A universalidade do gosto (Parte 11/14)
Exigências para o Bom Gosto
Para que tal sentimento (prazeroso, livre, desinteressado, sem conceitos, universalmente compartilhável) possa se produzir, é preciso que o indivíduo tenha um certo preparo: conhecimento, sutileza, sensibilidade, enfim, refinamento. Esse preparo acontece na sociedade, no interior da cultura da qual o sujeito faz parte. O juízo de gosto só tem validade se for dado em sociedade, no terreno da cultura. Kant afirma isso na sua obra Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime. É na dimensão humana, no convívio social, que os juízos de gosto fazem sentido. Embora cada um tenha gostos diferentes, quando falamos em beleza estamos pressupondo a humanidade, contando com um acordo unânime de todos os homens.
Nessa obra, Kant cita que uma bela música ou um bom vinho podem ser apreciados por muitos, assim como uma estante cheia de livros pode trazer satisfação a um proprietário que nem sequer os leu. Mas, enquanto esse prazer pode estar voltado ao valor prático ou ao valor teórico que esses objetos representem, ou tão somente ao prazer físico que eles proporcionem, o que torna essa experiência restrita ao âmbito individual, é na experiência estética, isto é, na contemplação desinteressada de uma obra, que se dá o sentimento estético. E aí a exigência é maior, pois essa experiência se dá apenas com pessoas que possuam um certo nível intelectual, uma sensibilidade treinada, um refinamento, alcançados via educação. Embora Kant reconheça que a todos foi dada essa tendência ao refinamento, pois um “(...) homem jamais é inteiramente desprovido de vestígios do sentimento refinado” (KANT, 1993, p. 36), são poucos, no entanto, os que a desenvolvem: “Entre os homens, são bem poucos aqueles que se comportam de acordo com princípios...” (Idem, p. 45). Mas a todos isso é possível pois “... todos os corações humanos, embora em porções diferentes, foram infundidos pelo amor à honra...” (Ibidem). Devemos lembrar que Kant é um dos expoentes do Iluminismo, por isso dava grande importância à educação como uma força de aperfeiçoamento individual.
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