"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Necessidade ou fim da arte ? (Parte 07/09)

A segunda forma de arte é a Clássica. É “(...) a da livre adequação da forma e do conceito, da idéia e da manifestação exterior (...)” (Idem, p. 157). Representa o ideal da arte, pois “(...) a figura, o aspecto natural, a forma que a idéia utiliza, deve conformar-se, em si e para si, com o conceito” (Ibidem). Aqui, figura e forma correspondem ao conceito. Não apenas uma correspondência entre conteúdo e forma, mas dos dois à idéia. Diferentemente do que no simbolismo, nesta forma de arte o mundo é desnaturalizado, “(...) o sensível, o figurado, deixa de ser natural.” (Ibidem). O homem deixa de ser algo completamente ligado à natureza ao adquirir consciência de si. Quando tem consciência que é animal, deixa de sê-lo. Essa consciência nos remete à participação do espiritual. Não somos puramente animais. Não somos mais passivos diante da natureza.

É pelo homem que o espírito se manifesta: “(...) o espiritual, enquanto manifesto, só o é revestindo a forma humana” (Ibidem). O espírito existe e existe sensivelmente na forma humana, onde pode realizar a beleza perfeita. O espírito é sensível ao humano e é na forma humana que o conceito se desenvolve. Arte é personificação do espiritual “... só humanizando-o [o espiritual] a arte pode exprimir o espiritual de modo a torná-lo sensível e acessível à intuição, porque só encarnado no homem o espírito se nos torna sensível.” (Idem, p. 158) Mas essa humanização não é uma pura identificação com o ser humano. O espírito não se deixa absorver, identificar com o físico, corporal. A forma é espiritual, purificada, desembaraçada dos laços com a matéria, com a finitude. Por isso o espírito não se perde na expressão da forma humana.

Essa forma de arte, entretanto, também é limitada. A manifestação do Espírito fica reduzida ao contexto da arte, presa à matéria. Eis aí a fraqueza dessa segunda forma de arte. Ela se mostra insuficiente e frágil. O Espírito se particulariza, não fica absoluto e eterno. Só na matéria ele não pode expressar-se com plenitude, precisa da espiritualidade pura.

Na terceira forma de arte acontece a superação. É a arte Romântica. Aqui ocorre a ruptura do conteúdo e da forma. Eles, que estavam separados, uniram-se e, agora, separam-se novamente. Uma volta, um regresso, mas que significa um avanço. É bom lembrar aqui da circularidade que é própria dessa evolução dialética.
 
Michelangelo, Criação do Homem. Capela Sistina.

Uma de suas obras mais conhecidas, a pintura do teto da capela Sistina, nesse recorte especificamente, apresenta o toque da criação divina. Deus, que faz o homem à sua imagem e semelhança. A arte clássica traz ao homem a representação da divindade, do espiritual, da idéia, da interioridade humana. Deus, ou o Espírito Absoluto para Hegel, estariam bem próximos de uma representação clara, consciente, pelo homem através da arte clássica, que já se desvencilharia da necessidade de visualização de um objeto físico (um templo ou alguma escultura, por exemplo), deixando o espírito humano livre para a contemplação da idéia. No entanto, ainda essa arte carece de perfeição, segundo Hegel, uma vez que precisa fazer uso da imagem, o que torna ligada à dimensão concreta da realidade.


0 Response to "Necessidade ou fim da arte ? (Parte 07/09)"