A universalidade do gosto (Parte 08/14)
Emmanuel Kant (1704-1804)
Kant e o Sentimento do Belo
Com opiniões contrárias às de Hume sobre os juízos de gosto, veremos as idéias do filósofo alemão Immanuel Kant. Ele escreveu, dentre outras, três grandes obras, consideradas as principais por representarem o cerne do seu pensamento: A Crítica da Razão Pura, A Crítica da Razão Prática e a Crítica dos Juízos. Discute sobre o conhecimento na primeira, e sobre a moral na segunda. O filósofo refletiu, na terceira Crítica, sobre os juízos estéticos.
Entre os problemas relacionados à dimensão prática da vida, das ações humanas e da dimensão do conhecimento racional, intelectual está a dificuldade de se compreender melhor a dimensão da sensibilidade. Qual a relação entre o mundo concreto e as idéias? Como é possível que as coisas sensíveis, materiais, possam se tornar conhecimento intelectual? Como se dá a relação entre o que é natural, determinado e limitado com as idéias, com o que é indeterminado e livre?
Para Kant a ponte entre a faculdade cognitiva (o intelecto) e a dimensão da sensibilidade, é a faculdade do juízo, relacionada aos sentimentos. Sentimentos esses que não devem ser compreendidos em termos de emoções (ódio ou amor, por exemplo). Esse sentimento que Kant vai investigar na Crítica da faculdade do Juízo é o sentimento estético, o sentimento de prazer e desprazer que se tem a partir de um tipo específico de objetos representados. Observe que Kant fala em sentimentos e não em sensação de agradável ou desagradável. Enquanto apenas a sensação de gostar ou não de algo parece muito subjetiva, o que impossibilitaria qualquer pretensão à universalidade, a idéia de sentimento dá mais força à impressão que as representações da sensibilidade causam no sujeito. Essa força nos faz pensar na possibilidade de que os sentimentos seriam mais comuns, isto é, que eles se apresentem da mesma forma a outras pessoas e, por isso, comunicáveis.
Kant afirma que o juízo de gosto “...não é (...) nenhum juízo de conhecimento, por conseguinte não é lógico e sim estético, pelo qual se entende aquilo cujo fundamento de determinação não pode ser, senão, subjetivo” (KANT, 1997, p. 93). Esses juízos, embora se remetam a algum objeto em particular, um objeto real, uma obra de arte, por exemplo, ou uma paisagem da natureza, não dizem a respeito do objeto. No juízo de gosto não se faz referência ao objeto, como num juízo de conhecimento, mas se refere ao modo como o sujeito é afetado pela representação pura deste objeto.
Esses juízos de gosto ou juízos estéticos, segundo Kant, possuem três alcances: o belo, o agradável e o útil. Quanto ao agradável e ao útil, que são sentimentos despertados em vista de fins e interesses particulares, eles são contrários ao sentimento do belo, pois este é desprovido de qualquer interesse ou finalidade que não seja ele próprio. O sentimento de beleza que se tenha diante de algum objeto não pode estar atrelado, segundo Kant, a nenhum interesse ou utilidade a que ele possa estar ligado. Quando utilizamos ou temos muita necessidade dele em vista de algum fim, não estamos em condições de vislumbrar sua beleza: “Cada um tem de reconhecer que aquele juízo sobre beleza, ao qual se mescla o mínimo interesse, é muito faccioso e não é nenhum juízo-de-gosto puro” (Idem, p. 96).
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