"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

No país dos Tenentes (Parte 03/03)

Reunião do Clube 3 de Outubro, vendo-se Pedro Ernesto
(ao centro de terno branco) e a sua direita Oswaldo Aranha, 1932/1933.
Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ CO foto 002/1)

Clube 3 de Outubro

Organização política fundada em fevereiro de 1931, no Rio de Janeiro, por elementos vinculados ao movimento tenentista, em apoio ao Governo Provisório de Getúlio Vargas.
Vitoriosa a Revolução de 1930e instalado o novo governo, logo surgiram atritos entre as forças que sustentavam Vargas. De um lado, colocavam-se os "tenentes", que se auto-intitulavam revolucionários autênticos; de outro, postavam-se os políticos ligados às oligarquias dissidentes que haviam dado apoio à revolução. Nesse ambiente, os principais líderes da facção tenentista decidiram criar uma organização política que sistematizasse as propostas do grupo e unificasse sua atuação. O Clube 3 de Outubro, assim denominado em homenagem à data do início da Revolução de 1930, defendendia em princípio o prolongamento do Governo Provisório e o adiamento da reconstitucionalizacão do país. Sua primeira diretoria foi formada por Góes Monteiro (presidente), Pedro Ernesto (primeiro vice-presidente), Herculino Cascardo (segundo vice-presidente), Oswaldo Aranha (terceiro vice-presidente), Augusto do Amaral Peixoto (tesoureiro), Temístocles Brandão Cavalcanti (primeiro-secretário) e Hugo Napoleão (segundo-secretário).
Em junho de 1931, o general Góes Monteiro renunciou e Pedro Ernesto assumiu seu lugar. Iniciou-se, então, o período de maior prestígio do Clube. Por sua influência, diversos "tenentes" foram nomeados interventores federais nos estados. O próprio Pedro Ernesto, que não era militar, mais era considerado um "tenente civil", assumiu o governo do Distrito Federal.
Em fevereiro de 1932, o Clube divulgou o esboço de seu programa, que orientaria a atuação de seus integrantes na vida política brasileira. O documento, além de criticar o federalismo oligárquico vigente na República Velha, defendia um governo central forte; a intervenção estatal na economia com o objetivo de modernizá-la; a convivência da representação política de base territorial com a representação corporativa, eleita por associações profissionais reconhecidas pelo governo; a instituição de conselhos técnicos de auxílio ao governo; a eliminação do latifúndio mediante tributação ou simples confisco; a nacionalização de várias atividades econômicas, como os transportes, a exploração dos recursos hídricos e minerais, a administração dos portos etc.; a instituição da previdência social e da legislação trabalhista.
Ainda em fevereiro de 1932, o governo federal, contrariando as pretensões do Clube, promulgou o Código Eleitoral, primeiro passo para a reconstitucionalização do país reivindicada pelos grupos políticos tradicionais. Membros do Clube envolveram-se, então, no empastelamento do Diário Carioca, jornal alinhado às forças constitucionalistas. Esse fato desencadeou séria crise política e marcou o início do declínio da influência do Clube junto ao governo federal. Em julho seguinte, quando se realizou sua primeira Convenção Nacional, a organização já dava sinais nítidos de esvaziamento. Entre julho e outubro, com a deflagração da Revolução Constitucionalista em São Paulo, suas atividades foram quase inteiramente interrompidas. A partir de outubro o Clube ressurgiu, defendendo princípios claramente autoritários e dando mostras de exacerbado nacionalismo, o que resultou inclusive no afastamento de várias de suas antigas lideranças.
Em julho de 1934, na época da eleição do presidente da República pela Assembléia Nacional Constituinte, o Clube 3 de Outubro patrocinou a candidatura do general Góes Monteiro. Essa candidatura, porém, não obteve o apoio desejado e foi retirada antes da eleição.
Em abril de 1935, por resolução de seus próprios membros, o Clube 3 de Outubro foi dissolvido.

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