"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Aristóteles (Parte 01/09)


FILÓSOFO E CIENTISTA - (Páginas 121-122.)

Querida Sofia! Certamente você ficou impressionada com a teoria das idéias, de Platão. E você não é a primeira. Não sei se você aceitou tudo sem maiores problemas, ou se tem algum comentário crítico a fazer. Mas se você fez críticas à teoria de Platão, saiba que estas mesmas críticas já foram feitas por Aristóteles (384-322 a.C.). Durante vinte anos ele foi aluno da Academia de Platão.
Aristóteles não nasceu em Atenas. Ele era natural da Macedônia e veio para a Academia quando Platão tinha sessenta e um anos. Seu pai era um médico de renome; um cientista da natureza, portanto. Este pano de fundo já diz alguma coisa sobre o projeto filosófico de Aristóteles. Seu maior interesse estava justamente na natureza viva. Ele não foi apenas o último grande filósofo grego; foi também o primeiro grande biólogo da Europa.
Exagerando um pouco, podemos dizer que Platão estava tão mergulhado nas formas eternas, no mundo das “idéias”, que quase não registrou as mudanças da natureza. Aristóteles, ao contrário, interessava-se justamente pelas mudanças, por aquilo que hoje chamamos de processos naturais.
Exagerando mais ainda, podemos dizer que Platão se apartou do mundo dos sentidos e que só percebia muito superficialmente tudo aquilo que vemos ao nosso redor. (É que ele queria escapar da caverna para espiar o eterno mundo das idéias!) Aristóteles fez exatamente o contrário: ele saiu ao encontro da natureza e estudou peixes e rãs, anêmonas e papoulas.
Você bem poderia dizer que enquanto Platão usou apenas sua razão, Aristóteles – ao contrário – usou também seus sentidos.
Mas há nítidas diferenças entre eles, até mesmo na forma de escrever. Enquanto Platão era poeta e criador de mitos, os escritos de Aristóteles são sóbrios e pormenorizados como os verbetes de uma enciclopédia. Em compensação, muito do que ele escreveu estava baseado em estudos naturais realizados com extrema diligência.
Registros da Antigüidade dão conta de não menos que cento e setenta títulos assinados por Aristóteles. Destes, quarenta e sete chegaram até nossos dias. Não se tratava de livros completos. A maior parte dos escritos de Aristóteles compõe-se de apontamentos feitos para suas aulas. Também na época de Aristóteles, a filosofia era essencialmente uma atividade oral.
A importância de Aristóteles para a cultura européia está também no fato de ele ter criado uma linguagem técnica usada ainda hoje pelas mais diversas ciências. Ele foi o grande sistematizador, o homem que fundou e ordenou as várias ciências.
Como Aristóteles escreveu sobre todas as ciências, vou me limitar a tratar aqui sobre algumas das áreas mais importantes.
E como me detive tanto em Platão, quero falar a você primeiramente sobre os argumentos de Aristóteles contra a teoria das idéias de Platão. Na seqüência, veremos como ele formulou sua própria filosofia natural. Afinal, Aristóteles resumiu o que os filósofos naturais haviam dito antes dele. Veremos também como ele tenta colocar em ordem nossos conceitos e funda a lógica como ciência. Por fim, vou falar um pouco sobre a visão que Aristóteles tinha do homem e da sociedade.
Se você aceita este roteiro, então só nos resta arregaçar as mangas e começar.

Extratos da obra de GAARDER, Jostein.
O Mundo de Sofia. Romance da História da Filosofia.
São Paulo: Cia das Letras, 1996.

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