"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã - a esfinge da modernidade (Parte 01/06)


O Ocidente é filho da civilização islâmica. Seja como transmissores do legado cultural da Antigüidade, seja por suas contribuições próprias, foram os grandes místicos, filósofos, cientistas e artistas muçulmanos que forneceram à Europa a massa crítica de conhecimentos responsável por seu primeiro renascimento cultural (séculos XI,XII e XIII), tão ou mais importante do que o segundo (séculos XIV, XV e XVI).
Hoje, no entanto, o mundo muçulmano encontra-se notavelmente defasado em relação às conquistas materiais do Ocidente e mantém com este um relacionamento tenso, quando não hostil. Enquanto países como a China, a Índia e até mesmo o Brasil procuram superar o atraso e conquistar seu espaço na modernidade, as nações islâmicas parecem patinar em uma estagnação sem perspectivas. Por quê?
A pergunta não é simples. E uma resposta razoavelmente consistente demandaria o esforço coletivo e concentrado de toda uma equipe multidisciplinar. Limitamo-nos a esboçar um ou outro tópico, eventualmente úteis para as pesquisas dos leitores.
Se existe uma lei comum aos fenômenos naturais e históricos, esta é a lei da impermanência. Estruturas se formam, desenvolvem-se, alcançam um ápice e depois sucumbem, em morte súbita ou longo declínio. É difícil precisar o momento em que a civilização islâmica perdeu o élan. Mas um exemplo que, apesar de sua precocidade, já contém as principais variáveis do processo pode ser encontrado em época tão recuada quanto o século XII, quando a Andaluzia muçulmana foi invadida por berberes provenientes do norte da África.
O refinado modelo civilizatório desenhado séculos antes pela dinastia omíada, que propiciava ampla liberdade de pensamento e a coexistência pacífica de muçulmanos, cristãos e judeus, foi então tragicamente substituído pelo exclusivismo fanático dos almôades, que professavam uma versão deturpada da religião de Muhammad. Sua intolerância intimidou os intelectuais e dividiu a população, abrindo caminho para as vitórias militares cristãs. Embora a proeminência muçulmana ainda devesse subsistir por longo tempo, os fatores de seu declínio já estavam desde então atuantes. E eram protagonizados por aqueles que, em nome do Islã, privavam o Islã de sua vitalidade.

Escrito por José Tadeu Arantes.
Portal Ática Educacional

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