"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Sócrates (Parte 02/07)


O HOMEM NO CENTRO (Páginas 77-78)

Por volta de 450 a.C., Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. A partir dessa época, a filosofia tomou um novo rumo.
Os filósofos naturais eram sobretudo pesquisadores naturais. Eles ocupam, portanto, um lugar muito importante na história da ciência. Depois deles, o centro de interesse em Atenas se deslocou para o homem e para sua posição na sociedade.
Em Atenas desenvolvia-se pouco a pouco uma democracia com assembléias populares e tribunais. Um pressuposto para a democracia era o fato de que as pessoas recebiam educação suficiente para poder participar dos processos democráticos. Em nossos dias, podemos ver o quanto uma jovem democracia precisa de um povo esclarecido. Entre os atenienses era particularmente importante dominar a arte de bem falar, a retórica.
Não demorou para que um grupo de mestres e filósofos itinerantes, vindos das colônias gregas, se concentrasse em Atenas. Eles se autodenominavam sofistas, eram pessoas estudadas, versadas em determinado assunto, e ganhavam a vida em Atenas ensinando os cidadãos.
Os sofistas tinham um importante elemento comum com os filósofos naturais: eles também viam com olhos muito críticos a mitologia tradicional. Ao mesmo tempo, porém, os sofistas simplesmente rejeitavam tudo o que consideravam especulação filosófica desnecessária. Para eles, ainda que houvesse respostas para muitas questões filosóficas, ninguém jamais seria capaz de encontrar respostas realmente seguras e definitivas para os mistérios da natureza e do universo. Este ponto de vista é conhecido na filosofia como ceticismo.
Mas ainda que não possamos encontrar uma resposta para todos os mistérios da natureza, sabemos que somos pessoas e que precisamos aprender a conviver umas com as outras. Os sofistas resolveram, então, dedicar-se à questão do homem e de seu lugar na sociedade.
“O homem é a medida de todas as coisas”, disse o sofista Protágoras (c. 487-420 a.C.). Com isto ele queria dizer que o certo e o errado, o bem e o mal sempre tinham de ser avaliados em relação às necessidades do homem. Quando perguntado se acreditava nos deuses gregos, Protágoras dizia: “Dos deuses nada posso dizer de concreto […] pois nesse particular são muitas as coisas que ocultam o saber: a obscuridade do assunto e a brevidade da vida humana”. Chamamos de agnóstico aquele que não é capaz de afirmar categoricamente se existe ou não um Deus.
Via de regra, os sofistas eram homens que tinham feito longas viagens e, por isso mesmo, tinham conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis das cidades-Estados podiam variar enormemente. Sob este pano de fundo, os sofistas iniciaram em Atenas uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. Com isto, eles criaram na cidade-Estado de Atenas as bases para uma crítica social.
Eles puderam mostrar, por exemplo, que uma expressão como “sentimento natural de pudor” era algo que não se sustentava. Pois se o pudor e a vergonha fossem uma coisa natural, então eles tinham de ser características inatas. Mas será que tais características são inatas, Sofia, ou será que a sociedade as criou? Para pessoas que já viajaram muito, a resposta simplesmente seria a seguinte: o medo de se mostrar despido a outras pessoas não é uma coisa natural ou inata. O fato de se ter ou não vergonha disso está ligado sobretudo aos usos e costumes de uma sociedade.
Você pode imaginar como foram inflamadas as discussões que os sofistas incitaram na sociedade de Atenas quando afirmaram que não havia normas absolutas para o certo e o errado. Ao contrário deles, Sócrates tentou mostrar que algumas normas são realmente absolutas e de validade universal.

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