"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã – a doutrina e o legado muçulmano (Parte 06/06)


Fim de um ciclo, novas divergências

Com a morte de Ali, encerrou-se o ciclo dos "quatro califas corretamente guiados", conforme o denomina a tradição muçulmana. Aproveitando o vácuo de poder, Yazid, o filho de Muawiya, apossou-se do califado em 680. Hassan, o primogênito de Ali, não se opôs à usurpação. Mas seu irmão mais novo, Hussein, levantou-se em armas. Apesar da desproporcional inferioridade numérica, Hussein combateu heroicamente as forças de Yazid, porém a vitória coube a seus adversários. Massacrado na Planície da Karbala, no Iraque, juntamente com seus familiares e partidários, a cabeça de Hussein foi decepada e levada na ponta da lança pelos vencedores, como um presente a Yazid.
O martírio de Hussein, filho de Ali e Fátima e neto do profeta Muhammad, marca a ruptura definitiva da ummah e constitui um acontecimento central no imaginário xiita. Milhões de fiéis o revivem a cada ano, no apavorante espetáculo da Ashura, quando se flagelam até ficar com as vestes empapadas de sangue. O túmulo de Hussein, na cidade de Karbala, tornou-se, depois de Meca, um dos mais sagrados locais de peregrinação do xiismo. Ele é hoje o epicentro da oposição xiita à presença norte-americana no Iraque.
Por meio de Yazid, os omeidas ou omíadas, como são designados os familiares de Muawiya, passaram a reinar sobre os territórios sunitas, constituindo uma dinastia profana, cujo passado sangrento foi paulatinamente esquecido graças ao refinamento cultural. Quanto aos xiitas, continuaram conferindo aos seus dirigentes uma liderança tanto política quanto religiosa. Embora as duas facções concordem em considerar Muhammad o último dos profetas de Deus, os xiitas atribuem aos seus primeiros líderes, os imans, um especial carisma ou inspiração divina.
A principal seita do xiismo cultua uma lista de 12 imans, daí ser denominada duodecimalista. A começar por Ali, são os seguintes os integrantes da lista:
1. Ali ibn Abu Talib
2. Hassan ibn Ali
3. Hussein ibn Ali
4. Ali ibn al-Hassan
5. Muhammad al-Bakir
6. Jafar al-Sadik
7. Musa al-Kazim
8. Ali al-Riza
9. Muhammad Jawad al-Taki
10. Ali al-Naki
11. Al-Hassan al-Askari
12. Muhammad al-Muntazar al-Mahdi

Muhammad al-Muntazar al-Mahdi, o 12º iman, desapareceu das vistas humanas no ano 878. Esse fato recebe na terminologia xiita o nome de "ocultação". Os duodecimalistas acreditam que ele não morreu, mas ocultou-se do mundo em um espaço intermediário entre o Céu e a Terra. De lá, juntamente com os 11 imans anteriores, continuaria inspirando os líderes religiosos (aiatolás) e, por meio deles, interferindo nos assuntos terrenos, à espera do momento em que tornaria a se revelar. A volta de Al-Mahdi, o "Iman Oculto" ou o "Guia Divinamente Guiado", prepararia o terreno para o retorno de Jesus e o Juízo Final - um tema central da escatologia muçulmana.

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