Aristóteles (Parte 02/09)
AS IDÉIAS NÃO SÃO INATAS - (Páginas 122-124.)
Assim como os filósofos que o antecederam, Platão também queria encontrar algo de eterno e de imutável em meio a todas as mudanças. Foi assim que ele chegou às idéias perfeitas, que estão acima do mundo sensorial. Além disso, Platão considerava essas idéias mais reais do que os próprios fenômenos da natureza. Primeiro vinha a idéia “cavalo” e depois todos os cavalos do mundo dos sentidos, trotando como sombras projetadas sobre a parede de uma caverna. A idéia “galinha” vinha, portanto, antes da galinha e do ovo.
Aristóteles achava que Platão tinha virado tudo de cabeça para baixo. Ele concordava com seu mestre em que o exemplar isolado do cavalo “flui”, passa, e que nenhum cavalo vive para sempre. Ele também concordava que, em si, a forma do cavalo era eterna e imutável. Mas a “idéia” cavalo não passava para ele de um conceito criado pelos homens e para os homens, depois de eles terem visto um certo número de cavalos. A “idéia” ou a “forma” cavalo não existia, portanto, antes da experiência vivida. Para Aristóteles, a “forma” cavalo consiste nas características do cavalo, ou seja, naquilo que chamaríamos de espécie.
Vou explicar melhor: Aristóteles entendia por “forma” aquilo que todos os cavalos têm em comum. E aqui a imagem da fôrma de fazer broas perde a sua validade, pois as fôrmas de fazer broas existem independentemente de cada broa em particular. Aristóteles não acreditava que houvesse na natureza um armário, por assim dizer, com fôrmas desse tipo. Para ele, as “formas” estavam dentro das próprias coisas; as “formas” das coisas eram suas características próprias.
Aristóteles também não concordava com Platão no que se refere ao fato de a “idéia” galinha vir antes da galinha propriamente dita. Aquilo que Aristóteles chama de a “forma” galinha está em todas as galinhas e são as características que distinguem as galinhas. Por exemplo, o fato de elas botarem ovos. Assim, a galinha em si e a “forma” galinha são duas coisas tão inseparáveis quanto o corpo e a alma.
Com isto resumimos a essência das críticas de Aristóteles à teoria das idéias de Platão. Mas você deve atentar bem para o fato de estarmos falando de uma dramática mudança de pensamento. Para Platão, o grau máximo de realidade está em pensarmos com a razão. Para Aristóteles, ao contrário, era evidente que o grau máximo de realidade está em percebermos ou sentirmos com os sentidos. Platão considera tudo o que vemos ao nosso redor na natureza meros reflexos de algo que existe no mundo das idéias e, por conseguinte, também na alma humana. Aristóteles achava exatamente o contrário: o que existe na alma humana nada mais é do que reflexos dos objetos da natureza. Para Aristóteles, Platão foi prisioneiro de uma visão mítica do mundo, que confundia as idéias dos homens com a realidade do mundo.
Aristóteles nos chama a atenção para o fato de que não existe nada na consciência que já não tenha sido experimentado antes pelos sentidos. Platão poderia ter dito que não existe nada na natureza que não tivesse existido antes no mundo das idéias. Aristóteles achava que, desta forma, Platão estava duplicando o número de coisas. Ele tinha explicado o exemplar isolado do cavalo fazendo referência à “idéia” cavalo. Mas que tipo de explicação é esta, Sofia? Quero dizer, de onde saiu a “idéia cavalo”? Será que, nessa linha de raciocínio, não poderia existir ainda um terceiro cavalo, de que a “idéia” cavalo não fosse senão uma imitação?
Aristóteles achava que todas as nossas idéias e pensamentos tinham entrado em nossa consciência através do que víamos e ouvíamos. Mas nós também temos uma razão inata. Temos uma capacidade inata de ordenar em diferentes grupos e classes todas as nossas impressões sensoriais. É assim que surgem conceitos como os de “pedra”, “planta”, “animal” e “homem”. É assim que surgem os conceitos de “cavalo”, “lagosta” e “canarinho”.
Aristóteles não negava que o homem tivesse uma razão inata. Muito pelo contrário: para ele, a razão era precisamente a característica mais importante do homem. Só que nossa razão permanece “vazia” enquanto não percebemos nada. Uma pessoa, portanto, não possui “idéias” inatas.
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