O desafio do Islã - a origem (Parte 07/07)
A vitória - Seguiram-se oito anos de guerra entre os partidários do profeta e os habitantes de Meca - uma luta prolongada, com vitórias e derrotas, armistícios e rompimentos, perdões contemporizadores e represálias sangrentas. Em todo o processo, destacou-se a visão estratégica de Muhammad, que, mesmo quando fez concessões imediatas ao adversário, acabou tirando proveito delas para fortalecer sua posição a longo prazo. No ano 630, finalmente, ele avançou sobre a cidade com um exército de 10 mil homens. Esgotada, Meca rendeu-se sem combater.
Entrando na cidade santa, Muhammad circundou a Caaba montado em sua camela. E, com o bastão utilizado para conduzir o animal, destruiu pessoalmente cada um dos 360 ídolos, enquanto recitava o versículo do Corão que diz "A Verdade chegou. A falsidade desvaneceu-se". Manteve, no entanto, a Pedra Negra, como uma dádiva de Deus. E a Caaba, como o mais sagrado dos santuários, o ponto focal (qibla) em direção ao qual todo o muçulmano deve se voltar no momento da prece.
Em vez de castigar os adversários, como esperavam alguns de seus seguidores, o profeta agiu com magnanimidade, perdoando até mesmo os mais ardorosos chefes inimigos e incorporando aos ritos muçulmanos a peregrinação à Caaba. Esse procedimento levou seu prestígio às alturas. O último foco de resistência, um exército de 30 mil beduínos pagãos, foi derrotado semanas mais tarde. A partir daí, representantes de todas as tribos árabes vieram jurar-lhe fidelidade. Quando Muhammad morreu, nos braços de Aisha, em 632, a Arábia estava unificava. Um século depois, as fronteiras do Islã estendiam-se da Espanha ao noroeste da Índia.
Ao contrário de Jesus, que mandou os discípulos oferecerem a outra face a quem lhes dava um tapa, Muhammad propagou sua fé com conquistas militares e tratados diplomáticos. Uma generalização equivocada dessa contingência histórica levou alguns de seus seguidores a uma perspectiva religiosa exclusivista e belicosa. Tal enfoque não corresponde, porém, à real natureza do Islã. Adeptos da experiência espiritual genuína, os sufis, os grandes místicos muçulmanos, reconheceram a unidade profunda de todas as religiões. O espanhol Ibn Árabi (1165-1240), considerado o maior deles, proclamou essa unidade em um poema de imperecível beleza:
"Meu coração tornou-se capaz de todas as formas:
É um pasto de gazelas, o convento do cristão,
Um templo para os ídolos, a Caaba do peregrino,
O rolo da Torá, o texto do Corão.
Sigo a religião do Amor.
Para onde quer que avancem as caravanas do Amor,
Lá é meu credo e minha fé."
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