"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã - a esfinge da modernidade (Parte 04/06)


A desagregação causada pelo colonialismo

A inglesa Karen Armstrong estuda esses personagens em seu livro Em nome de Deus. E aponta corretamente que seus generosos projetos reformistas - quer se pautassem por uma imitação do modelo ocidental de caráter laicizante, quer buscassem modernizar suas sociedades a partir do resgate dos valores tradicionais do Islã - estavam necessariamente fadados ao fracasso. Pois, não dispondo de um lastro nas infra-estruturas econômicas dos países, apenas arranhavam suas superestruturas. No Ocidente, as ideologias da modernidade assumiram formas maduras apenas quando o modo de produção capitalista já se havia infiltrado profundamente no tecido econômico, modificando as relações sociais. No Oriente, agrário e pré-capitalista, a modernidade era uma idéia fora de lugar.
Ademais, não houve tempo para reformas. O colonialismo tinha pressa e, antes que idéias reformistas nos âmbitos da justiça, da educação e da cultura pudessem frutificar, impôs aos países dominados sua avassaladora presença.
Esta presença não se limitava ao olhar desdenhoso de velhos diplomatas esnobes, ao sorriso sarcástico de jovens funcionários ambiciosos, à construção de clubes e bairros interditados aos habitantes autóctones. Muito mais impactante, implicava na drenagem insaciável de matérias-primas; no dilúvio de produtos manufaturados metropolitanos, que arruinavam as indústrias artesanais locais; na dissolução de instituições de venerável antiguidade; na formação de uma nova classe média "nativa", ocidentalizada, subserviente, vulgar e corrupta, que minava a auto-imagem das sociedades tradicionais.
Os países islâmicos ainda não superaram o trauma desse processo desagregador. Mais de um século de história não conseguiram exorcizar os fantasmas do passado. Demasiado tardias, ocorrendo já quando o capitalismo hegemônico ingressara em sua etapa monopolista e as burguesias haviam perdido seu potencial revolucionário, suas tentativas modernizadoras revestiram-se de formas autoritárias e foram incapazes de produzir sociedades autenticamente democráticas e modernas. Isso vale tanto para as iniciativas de Kemal Ataturk, na Turquia, quanto para as de Gamal Abdel Nasser, no Egito, e as do xá Reza Pahlevi, no Irã.

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