"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã - a origem (Parte 03/07)

Mesquita do Profeta Maomé, Medina

A revelação - O acontecimento decisivo, que transformou radicalmente a vida de Muhammad, mudou a face da Arábia e influenciou o próprio destino da humanidade, ocorreu no ano 610. Era uma noite do mês de Ramadan, dedicado ao jejum e aos retiros espirituais. Como de hábito, ele meditava sozinho, em uma caverna isolada do monte Hira, nas cercanias de Meca. Afirma a tradição que, ao alcançar um estado de profunda absorção espiritual, percebeu a presença do arcanjo Gabriel, na forma de um homem. O anjo lhe disse: "Recita!". Surpreso, Muhammad respondeu: "Não sou um recitador". O mensageiro celestial então o abraçou, apertando-o até ele quase desfalecer e repetiu a ordem: "Recita!". Muhammad voltou a argumentar que não era um recitador e outra vez foi abraçado e espremido até o limite da sobrevivência. Quando recuperou o fôlego, Gabriel lhe disse: "Recita em nome de teu Senhor, que tudo criou! Criou o homem de um coágulo. Recita! Teu Senhor é o mais Generoso. Ele, que ensinou com o cálamo, ensinou ao homem o que este não sabia".
Segundo os místicos muçulmanos, o cálamo (caneta), mencionado na Revelação, corresponde ao Alif, a letra inicial do alfabeto árabe. Representado como um traço vertical, o Alif é o símbolo da Unidade Divina, a primeira manifestação de Deus, a pena com a qual o Livro do Mundo foi escrito. Muhammad não compreendeu de imediato o significado de sua experiência. Ele já havia tido muitos sonhos misteriosos, sonhos que antecipavam acontecimentos futuros ou lhe apresentavam aspectos inusuais da realidade. Com o passar dos anos, acostumara-se também aos jejuns e às meditações, nas quais buscava um sentido para a existência. Mas aquelas palavras enigmáticas estavam fora de suas expectativas. Profundamente perturbado, voltou para casa trêmulo e febril. Foi Khadija que o tranqüilizou. Quarenta dias se passaram. Muhammad, que a princípio temera, agora ansiava por novas revelações. Depois de provar o manjar espiritual, considerava a vida cotidiana desprovida de sabor. A saudade que sentia daquele alimento místico era tanta que chegou a pensar em suicídio. Foi então que recebeu uma nova mensagem. E, dizem os muçulmanos, continuou a recebê-las, em pequenos bocados, até o final da vida.
Essas mensagens são interpretadas como a palavra de Deus (Allah), sempre comunicada a Muhammad pelo arcanjo Gabriel. Elas compõem a quase totalidade do texto do Corão. Sua mensagem principal é o Islam, a total submissão do homem à vontade de Deus. Segundo a ótica muçulmana, o exemplo mais perfeito dessa submissão foi dado por Abraão, que, atendendo ao comando de Deus, que testava sua fidelidade, aceitou sacrificar o próprio filho, Isaac - ato impedido por um anjo, que revogou a ordem divina. O islamismo reconhece todos os profetas judeus e exalta enormemente a figura de Jesus, considerado o protótipo da santidade. Mas contesta a concepção judaica de um "povo eleito" e nega com veemência a divindade de Cristo.
Quando Muhammad começou a transmitir aos outros as experiências que estava tendo, um círculo de discípulos juntou-se pouco a pouco à sua volta. Primeiro, Khadija. Depois, Abu Bakr, pai de Aisha. Em seguida, Ali, o futuro marido de Fátima. O grupo foi crescendo entre os marginalizados da riqueza e do poder e passou a incomodar os setores dominantes da tribo dos Quraysh, que controlavam o comércio e a política na cidade de Meca e auferiam grandes lucros com o movimento de peregrinos em direção à Caaba.

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