Aristóteles (Parte 04/09)
A CAUSA FINAL, OU DA FINALIDADE - (Páginas 126-127.)
Antes de deixarmos de lado o fato de que todas as coisas vivas e mortas têm uma forma que diz alguma coisa sobre as possibilidades dessas coisas, devo acrescentar ainda que Aristóteles tinha uma notável visão das relações de causa e efeito na natureza.
No nosso dia-a-dia, quando falamos das “causas” disso ou daquilo, referimo-nos a como as coisas acontecem. A vidraça se quebra, porque Peter atirou uma pedra. Um sapato passa a existir porque um sapateiro costurou alguns pedaços de couro. Mas Aristóteles acreditava que na natureza havia diferentes tipos de causas. É importante saber, sobretudo, o que ele entendia por aquilo que chamou de causa da finalidade.
No caso da janela quebrada, também seria pertinente perguntar por que Peter atirou a pedra. Estamos perguntando, portanto, que intenção ele tinha, que objetivo ele perseguia. Também não há dúvida de que a intenção ou a finalidade desempenham um papel importante no caso da manufatura do sapato. Mas Aristóteles também partia de uma tal causa da finalidade para explicar alguns processos vivos da natureza. Vamos citar apenas um exemplo.
Por que chove, Sofia? Na certa você aprendeu na escola que chove porque o vapor d’água esfria nas nuvens e condensa na forma de gotas de chuva que, por causa da força da gravidade, caem no chão. Aristóteles também teria acenado com a cabeça em sinal de concordância. Mas ele teria acrescentado que, até agora, você só citou três causas. A “causa substancial” ou causa material, que é o fato de o vapor d’água em questão (as nuvens) estar ali bem na hora em que o ar esfriou; a “causa atuante” ou causa eficiente, que é o fato de o vapor d’água esfriar, e a causa formal, que é o fato de ser inerente à “forma” ou à natureza da água cair no chão. Se você não tivesse dito mais nada, Aristóteles teria acrescentado que chove porque as plantas e os animais precisam da água da chuva para crescer. É isto que ele chama de a causa final, ou da finalidade. Como você pode ver, de repente Aristóteles atribuiu às gotas de chuva uma espécie de tarefa vital, um “propósito”.
Nós provavelmente inverteríamos as coisas e diríamos que as plantas crescem porque há umidade. Você está vendo a diferença, Sofia? Aristóteles acreditava que por trás de tudo na natureza havia um propósito, uma finalidade. Chove para que as plantas cresçam e as laranjas e as uvas possam crescer e servir de alimento aos homens.
Hoje em dia a ciência não pensa mais assim. Dizemos que os alimentos e a água são condições para que homens e animais possam existir. Sem essas condições nós não existiríamos. Mas não é intenção das laranjas ou da água nos alimentar.
No que se refere à sua teoria das causas, podemos nos sentir tentados a afirmar que Aristóteles se enganou. Mas não vamos nos apressar demais. Muitas pessoas acreditam que Deus criou o mundo para que homens e animais possam nele viver. Deste ponto de vista, podemos naturalmente afirmar que a água corre nos rios porque homens e animais precisam de água para viver. Só que neste caso estamos falando do propósito ou da intenção de Deus. Não que as gotas de chuva ou a água dos rios gostem de nós e queiram nos proteger.
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