"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O desafio do Islã - a esfinge da modernidade (Parte 03/06)

Mesquita central de Londres

O insaciável apetite capitalista

Enquanto as nações européias emergentes trilhavam o caminho da acumulação capitalista e da industrialização, o território otomano, apegado à renda da terra, permanecia essencialmente agrário. No século XIX, como um grande animal moribundo, devorado ainda em vida por predadores, o Império foi sendo despojado de suas províncias pelos ingleses, franceses e russos. A funesta aliança com a Alemanha e a Áustria-Hungria, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), precipitou o seu fim. Terminado o conflito, tendo os russos se retirado da guerra após o triunfo da revolução socialista de 1917, a Inglaterra e a França, grandes vitoriosas, repartiram entre si o botim.
Com o colapso de seus dois grandes impérios, o Mughal e o Otomano, o mundo islâmico defrontou-se, na segunda metade do século XIX e início do século XX, com o apetite insaciável das potências capitalistas emergentes. Para mencionarmos apenas os territórios com maioria ou expressiva presença muçulmana, a Inglaterra apossou-se da Índia, Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman, Aden, Iraque, Transjordânia, Palestina, Egito, Sudão, Somália, Nigéria e obteve importantes concessões petrolíferas na Pérsia, com a criação da Anglo Persian Oil Company, em 1909. Considerando o mesmo critério, o Império Colonial Francês estendeu-se sobre parte da Turquia, Síria, Líbano, Tunísia, Argélia, Marrocos, Mauritânia, Senegal, Mali, Níger, Chad, Djibuti, Costa do Marfim, Benin, Camarões e Madagascar. A Indonésia, hoje o país com a maior população islâmica, ficou sob domínio holandês.
As primeiras e precoces respostas muçulmanas ao desafio colonial foram movimentos armados de caráter tradicionalista, como a rebelião do emir argelino e mestre sufi Abd El-Kader contra o colonialismo francês, em meados do século XIX. Ou a revolta sudanesa ocorrida décadas mais tarde, na qual, à frente de 100 mil homens em armas e afirmando ser o Mahdi - o "Guia Divinamente Guiado" prometido pela escatologia islâmica -, Muhammad Ahmad impôs dura derrota aos colonialistas britânicos.
A propaganda colonialista demonizou esses líderes, mas sua grandeza seria reconhecida até mesmo pelos europeus. A nobreza de seus ideais, o poder de arregimentação de suas prédicas e a inteligência de suas táticas militares revelaram-se impotentes, porém, frente à superioridade econômica e tecnológica do adversário. Não surpreende que, na geração seguinte, um novo tipo de liderança, admirada com as conquistas materiais da modernidade ocidental, surgisse nas sociedades muçulmanas.

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